Dezoito companhias do Porto ‘ocupam’ os vários espaços do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, até 27 de março. É o Ciclo de Teatro do Porto?, iniciativa comissariada pelo ator e encenador João Pedro Vaz, 36 anos, também diretor artístico das Comédias do Minho. Pensado originalmente por Jorge Salaviza e Isabel Alves Costa (já desaparecida) o ciclo abarca os principais projetos teatrais daquela cidade, partindo da figura tutelar de António Pedro.
JL: Este ciclo lança uma pergunta. Como o define?
João Pedro Vaz: Tentámos refletir, por um lado, sobre a história do teatro do Porto e, por outro, sobre o seu futuro, traçando uma panorâmica relativamente ampla de alguns dos seus projetos teatrais. Neste ciclo estão contidas várias gerações, perfazendo um arco histórico.
Que arco histórico é este?
“De António Pedro à Fábrica da Rua da Alegria” é o subtítulo deste ciclo. Quando o comecei a preparar, encontrei o TEP (Teatro Experimental do Porto) numa fase nova. Devido às comemorações do centenário de nascimento do encenador, pintor e escritor António Pedro, evocavam alguns dos seus espetáculos mais emblemáticos. Como foi a primeira figura da vanguarda do teatro moderno do Porto, pensei que deveríamos começar com ele. Considerei depois que deveríamos focar os projetos mais recentes, aquilo que pode ser o futuro do teatro do Porto. No ‘intervalo’ procurei apresentar companhias e gerações representativas do teatro da cidade.
Como foi feita essa escolha?
Sabia que o ciclo tinha que dedicar um espaço às linguagens de experimentação, fora do texto, muito importantes no teatro desta região. Até porque eram linguagens muito queridas e muito trabalhadas pela Isabel Alves Costa, a programadora inicial. Havia ainda duas gerações muito fortes que tinham de estar presentes. A dos que nos anos 90 protagonizaram uma regeneração, criando uma serie de projetos, como As Boas Raparigas ou as Visões Úteis, e a de uma geração anterior a esta, de atores como António Capelo, Emília Silvestre ou Rosa Quiroga. Nos anos 80, tinham projetos que desapareceram e que nos anos 90 estavam à frente das escolas de teatro. Foram professores dos mais novos e acabaram por ir atrás deles, formando, entre outros, o Teatro do Bolhão ou o Ensemble. Foi um momento muito feliz do teatro do Porto.
O que destaca da programação?
A mini retrospetiva do Teatro de Marionetas do Porto [de 24 a 27 de fevereiro]. O trabalho da Circolando, do Ensemble, da ASSéDIO, do Teatro do Bolhão, de As Boas Raparigas e das Visões Úteis. Há uma enorme variedade de propostas.
Este ciclo faz-se não só de peças, mas também de conferências…
Foi uma ideia do Jorge Salaviza com a qual concordei, porque muitas vezes fazem-se as apresentações e não há uma paragem ou reflexão. Surgiram as sessões Sábados às 17, organizadas pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro. Penso que Lisboa tem que ‘acordar’ para o que se passa no resto do país e espero que este ciclo não se feche.