Três jovens intérpretes e coreógrafos, Marlene Freitas e a dupla Sofia Dias e Vítor Roriz, apresentam novas criações ao nível da dança contemporânea. A Companhia Nacional de Bailado (CNB) apresenta também três novas criações na mesma área.
Marlene Freitas (n. Cabo Verde, 1979) apresenta, de 26 a 28 de Março, no Teatro Municipal de Almada, A Seriedade dos Animais. A estreia nacional deste novo trabalho, apresentado em primeira mão no Festival de Artdanthé, Paris, teve uma residência no Centro de Artes Performativas do Algarve, Capa, e conta com interpretações da própria coreógrafa, Luís Guerra e Alex Jenkins.
A criadora tem trabalhado dentro e fora do país, destacando-se quer como intérprete de nomes como Tânia Carvalho, Boris Charmatz ou Emannuelle Huynn, quer assinando as suas próprias peças. Nos últimos anos, em Portugal, apresentou produções próprias no Festival Temps d’ Images, no espaço Box Nova do Centro Cultural de Belém, na Gulbekian ou no Festival Materiais Diversos.
A Seriedade dos Animais inspira-se em Baal, a primeira peça longa de Brecht, escrita aos 20 anos, em 1918. Trata-se do percurso de vida de um poeta e cantor bêbedo, rude e mulherengo. Baal é um anti-herói e corresponde à imagem romântica do poeta marginal. À época, a peça foi uma revolta contra o expressionismo vigente.
A criadora diz que não se trata de expor a peça em si, mas de a representar entre os bailarinos, de modo a que seja ela a definir a organização dos próprios intérpretes no espectáculo. O texto está presente “de uma forma muda e cada um representa personagens precisas a cada momento, como se estivéssemos num palco ‘surdo’, capaz de acolher tanto um gesto dramático ou uma massa abstracta, como um gesto artificial ou necessário”. O espaço cénico foi pensado para ser restrito e à boca de cena; um lugar muito exposto, onde o mínimo gesto ou intenção seja visível. Será uma espécie de caixa ou pequeno teatro onde surgirão “figuras, imaginários e sensações”.
Sofia Dias e Vítor Roriz são uma dupla de criadores, em colaboração desde 2006, artistas associados do Espaço do Tempo, centro coreográfico de Montemor-o-Novo. Fazem um trabalho de fronteira da performance/dança com outras linguagens, onde se têm destacado as artes plásticas. A dupla estreia, a 26 e 27 de Março, na Black Box, em Montemor-o-Novo, a sua mais recente criação, O Mesmo mas Ligeiramente Diferente, que repetirá a 31 de Março e 1 de Abril, no Teatro Helena Sá e Costa, Porto.
Este trabalho é uma produção com a Companhia Instável, também sediada na Invicta, cujos objectivos se centram na criação de oportunidades profissionais para bailarinos e no desenvolvimento da dança contemporânea em Portugal.
Anualmente, um coreógrafo é convidado a criar a partir de um conjunto de jovens intérpretes seleccionados por audição, que entrarão em residência coreográfica ao longo de dois meses, para depois apresentarem o trabalho final em palcos nacionais e internacionais. O projecto contou já com a colaboração de Amélia Bentes, Nigel Charnock, Jamie Watton, Bruno Listopad, Ronit Ziv, Javier de Frutos, Wim Vandekeybus, Rui Horta e Madalena Victorino.
Dizem os criadores que há coisas que assumem como transversais ao trabalho que têm feito em conjunto, remetendo-nos para o título da peça. Trata-se de uma fórmula de composição específica que implica “resistir a determinadas fórmulas de interpretação e composição e experimentar um vazio relativo”.
Light, Requiem e A Chuva Cai na Poeira como no Poema são as três novas criações que a Companhia Nacional de Bailado leva ao Teatro Camões, em Lisboa, de 25 a 28 de Março.
Com coreografia de Katarzyna Gdaniec e Marco Cantulpo, Light debruça-se sobre o mistério do gesto como momento original, não reproduzível – um momento durante o qual o tempo se suspende e cada movimento é único. Ambos os criadores foram membros da companhia de Maurice Béjart e Cantulpo foi também membro da CNB. Criaram a Companhia Linga, em 1992, e em 2003 remontaram a peça Concerto para a CNB.
Em Requiem, Rui Lopes Graça, coreógrafo residente na CNB e autor de sete criações originais para a mesma, reflecte sobre as vicissitudes da morte. A música é de Henrik Górecki (Sinfonia Nº 3, Symphony of Sorrowful Songs, Op.36). Actual Director Artístico da companhia, Vasco Wellenkamp apresenta A Chuva Cai na Poeira como no Poema, um trabalho com música original de Carlos Zíngaro, a partir da palavra dos mais destacados poetas nacionais. De salientar a participação ao vivo do actor Diogo Dória, que declamará os poemas.
Uma nota ainda para Aldara Bizarro, que tem várias criações em cena esta quinzena. No Teatro Maria Matos apresenta, de 22 a 28 de Março, Personagens de Água, um espectáculo participativo de dança para crianças dos 6 aos 11 anos: fala-se das qualidades da água e da água como metáfora da vida. Dia 28, a coreógrafa, apresenta mais um desafio para os mais novos no Centro Cultural de Ílhavo. Em É uma Bailarina as crianças são chamadas a participar e a questionar o corpo: da herança genética às influências culturais. A 27, o Teatro Aveirense recebe ainda Hanare, o mais recente espectáculo de Aldara Bizarro, que marca o regresso ao palco, a solo, da bailarina e coreógrafa. O espectáculo é uma parceria com o coreógrafo Francisco Camacho e o músico Nuno Rebelo.