Na loja do CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral, em Lisboa, ao lado dos brinquedos do Sri Lanka, dos chás da Índia, do chocolate do Equador, do açúcar cubano ou do café da Nicarágua, estão também presentes o sal de Tavira, azeite alentejano, vinho de Colares ou têxteis trabalhados à forma antiga pelas Capuchinhas de Campo Benfeito (Castro Daire).
“Achamos que as razões que levam os pequenos produtores de outros países a ficar fora dos circuitos do comércio convencional são as mesmas que afastam os pequenos produtores em Portugal”, disse a responsável da loja, Dénia Claudino, considerando “inaceitável” que, em muitos casos, nem sequer consigam cobrir os custos de produção.
Além de vender artigos de pequenos produtores locais, o CIDAC distribui também cabazes do PROVE, uma iniciativa nacional que abrange cerca de mil agricultores que vendem diretamente ao consumidor.
Semanalmente, são já 110 famílias que vão recolher o seu cabaz de frutas e legumes ao CIDAC.
“Temos notado que cada vez mais pessoas aderem a este tipo de comércio, a uma economia solidária, mais ao serviço das pessoas. Um comércio com mais justiça, tanto social, como ambiental”, adiantou Dénia Claudino, sublinhando que há alternativa ao comércio convencional, alimentado por grandes corporações e multinacionais que “esmagam os pequenos produtores”.
A nível internacional, o comércio justo tem estado a crescer, mas apesar do interesse dos consumidores, são cada vez menos os estabelecimentos que disponibilizam esta alternativa comercial, sobretudo depois da crise financeira que levou ao encerramento de vários espaços.
Miguel Pinto, diretor executivo da Equação, a primeira importadora e distribuidora portuguesa de produtos de comércio justo e responsável pela abertura da primeira loja do género, em 1999, em Amarante, declarou à Lusa que as vendas se ressentiram fortemente com a crise.
A Equação, que chegou a gerir dez lojas de comércio justo, através de cooperantes e parceiros, explora atualmente apenas dois estabelecimentos, em Amarante e no Porto.
Dénia Claudino aponta “o fraco associativismo que há em Portugal” como outra causa possível, já que estas lojas são normalmente geridas por associações ou cooperativas.