Estava sozinho quando o incêndio chegou às imediações da sua exploração agrícola. Luís Neves tinha apenas dois extintores que de “pouco ou nada serviram” nas horas de maior aflição. Tentou proteger o que pôde até que o fumo intenso o obrigou a resguardar-se para se salvar a si mesmo. Os bombeiros chegariam uma hora e meia depois de o fogo atingir aquela zona. A ajuda dos bombeiros foi crucial para que a empresa não ficasse totalmente destruída.
Situada numa zona relativamente isolada no concelho da Lousã, a NaturApproach é uma exploração agrícola criada em 2012. Dedica-se à venda de leite, cabritos, cabras e queijos. Mas o negócio ficou comprometido depois de no dia 15 de outubro o incêndio ter destruído grande parte das estruturas e ter tirado a vida a cerca de 200 animais. Uma redução de 80% de uma produção que existia há ano e meio.
“Os animais estavam divididos em dois barracões: no maior encontravam-se cerca de 200 cabras, muitas delas as melhores cabeças que tinham sido tratadas de forma especial, alimentadas quase a pão de ló”, explica enquanto lamenta a quantidade de investimento que vai acabar por não ter retorno. “Muitas delas estavam prenhas, o que agrava a situação”, detalha para dar a entender o volume de perdas e engrossar a lista de estragos.
Os prejuízos não são fáceis de quantificar, mas parece certo que aquilo que o Estado se compromete a retribuir – 50% para danos agrícolas – não é suficiente para reerguer a empresa na sua totalidade. “E muito menos para pagar a fornecedores ou a empréstimos bancários.”
À volta, as árvores pretas e o baldio queimado sugerem pouco mais do que silêncio. O armazém onde antes se encontravam os 200 animais que acabariam por não resistir às chamas está agora vazio e pardacento. Os comedouros castanho-ferrugem parecem travar uma luta com a dignidade – por uma questão de orgulho, mantêm-se de pé, firmes no solo cinzento, que antes era amarelo-palha.
Este cenário contrasta com o da sala onde as cabras são ordenhadas. Esta é a divisão que melhor espelha o início da reconstrução, pois foi completamente limpa e reequipada com uma máquina para ordenhar gado. Este trabalho foi em parte da responsabilidade de um grupo de voluntários vindos de Lisboa para ajudar a NatturApproach a sobreviver. “Ainda falta fazer muita coisa”, reconhece Luís Neves, que não deixa de sentir um pouco mais de esperança quando vê aquelas paredes brancas, agora limpas e sem sinal de fogo.
Atualmente, o trabalho com o gado escasseia. Mas o primeiro sinal de esperança foi dado pelos próprios animais: das 55 cabras que sobreviveram nasceram 45 cabritos nos dias que se seguiram ao incêndio. A este grupo, vão somar-se em breve 26 companheiras, uma doação da ACRO.
Além destas boas novas, a ração e palha não tem parado de chegar. Os atos de solidariedade e o compromisso para com o gado que sobreviveu – e nasceu entretanto – são os motivos que fazem com que Luís Neves não perca a esperança de voltar a erguer a exploração.
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