Não houve novas modas declaradas, mas o acentuar de diretrizes que já se vinham notando. A grande maioria das principais novidades relojoeiras desveladas no recente Salon International de la Haute Horlogerie andaram sobretudo à volta de uma de três grandes tendências – sendo que uma delas está intimamente ligada à história da medição do tempo, outra joga com as mais ínfimas fronteiras do espaço e uma outra está relacionada com exímias artes decorativas exercidas por artesões altamente especializados.
O céu é o limite
Foi graças à alternância entre o dia e a noite e a sucessão das estações que o homem aprendeu a medir o tempo com a ajuda da astronomia. Adequadamente, a Federação da Alta Relojoaria organizou no seu habitual espaço cultural no Salon International de la Haute Horlogerie uma exposição histórica denominada ‘Astronomia, Pai da Relojoaria’ que já tinha sido exibida em salões no final do ano passado (como o SalonQP, em Londres) com exemplares relojoeiros dos últimos séculos e das últimas décadas reveladores da ligação íntima entre os instrumentos do tempo e a influência astral.
A indicação das fases da lua é uma das pequenas complicações mais populares da relojoaria mecânica, mas as melhores marcas têm ido para além dessa mera indicação e têm desenvolvido modelos especiais que mostram o satélite da terra ou mesmo o espaço sideral de modo inovador. E não há dúvida de que alguns dos relógios vedeta do Salon International de la Haute Horlogerie se inserem nessa alargada categoria que engloba os modelos dotados de calendário perpétuo e complicações astronómicas. Neste domínio, destaque para o Richard Lange Perpetual Calendar Terraluna e o Grand Lange 1 Moon Phase da A. Lange & Söhne, para o Midnight Planetarium da Van Cleef & Arpels, para o Rotonde Earth & Moon da Cartier, para o Calendário Perpétuo com Equação do Tempo da Greubel Forsey, entre outros.
Dieta extrema
Outra das tendência vincadas e que já vinha de edições anteriores do Salon International de la Haute Horlogerie foi a dos relógios ultra-planos.
Em ante-estreia, a Vacheron Constantin tinha dado o mote ao lançar o mais fino relógio dotado da função acústica de repetição minutos: o Patrimony Contemporaine, com os seus 8,09mm de espessura. Mas essa marca foi ultrapassada pela estrela da Jaeger-LeCoultre no certame, que para além da função de repetição minutos ainda lhe juntou um turbilhão volante! O Master Ultra Thin Minute Repeater Flying Turbilhão tem apenas 7,9mm e uma arquitectura mecânica notável na qual sobressai um rotor periférico e um balanço volante. Mas o recorde do mundo do relógio mecânico mais fino passa a pertencer ao Altiplano 900P da Piaget: com apenas 3,6mm de perfil.
Excessos decorativos
O terceiro grande vetor de inspiração claramente sentido no Salon International de la Haute Horlogerie foi o dos chamados Métiers d’Art e até se sentiu de modo exagerado, com várias marcas a fazerem das artes decorativas uma das suas bandeiras de comunicação – começando pela Vacheron Constantin, que tem liderado o movimento, e passando com grande incidência pela Cartier, Piaget e Van Cleef & Arpels até chegar à Greubel Forsey com o seu Art Piece 1 que apresenta um óculo lateral com uma lente que aumenta 23 vezes uma micro-escultura do especialista Willard Wigan.
Até a Jaeger-LeCoultre aderiu à tendência com a criação de uma nova linha que alia a alta-relojoaria e as grandes complexidades mecânicas à superlatividade decorativa: a Hybris Artistica.