O que faz um hotel onde metade das suas receitas vem de clientes estrangeiros e quase outro tanto vem do turismo de congressos, ambos arredados no tsunami da pandemia? Reinventa-se. Foi isso que fez o Évora Hotel, unidade de quatro estrelas e uma das maiores desta cidade alentejana que no último ano teve de reajustar toda a sua estratégia em conformidade com os novos tempos pandémicos.
O trunfo? A localização que lhe permite explorar a essência à qual as pessoas voltaram depois do susto que tem sido conviver com o vírus.
Apreciar os prazeres da comida, degustar um bom vinho, mergulhar na natureza através de coisas simples como um piquenique ou uma caminhada matinal tornaram-se os novos atrativos do hotel que até há bem pouco tempo se considerava um hotel urbano mas que é cada vez mais um hotel rural.
“Tivemos quebras muito significativas com a pandemia – perdemos o nosso mercado internacional que representava uma fatia de 50% das receitas e também o mercado de congressos foi completamente arrasado. Por estarmos a pouco mais de uma hora do aeroporto de Lisboa, esta área dos congressos, a do segmento ‘second town’, onde se permite às pessoas concentrarem-se muito no evento em si, estava a correr bastante bem até à pandemia. Mas tudo isso mudou. Felizmente já trabalhávamos bem o segmento das famílias e é este agora o nosso principal cliente”, conta Miguel Melo Breyner, diretor-geral do Évora Hotel.
Mas também para estes clientes, os fiéis de sempre, foi necessário um reajuste. “Os nossos clientes mudaram muito as suas preferências com a pandemia, se calhar porque apanharam algum susto grande, a verdade é que as pessoas agora estão mais atentas ao que é autêntico e passaram a dar mais valor às coisas simples da vida e que lhes passavam ao lado até tudo isto acontecer”, realça o responsável deste hotel, cujas diárias variam entre os 100 e os 200 euros.
O Alentejo, já se sabe, tem uma gastronomia rica e é uma das regiões com maior concentração de espaços dedicados ao enoturismo, mais-valias que o hotel tem explorado através do seu próprio restaurante e das parcerias com as adegas que fazem parte da ‘Rota dos Vinhos do Alentejo’. A sua ‘wineshop’ foi a primeira a ser lançada dentro de um hotel no Alentejo, há mais de oito anos e oferece atualmente um vasto leque de vinhos tintos, brancos, rosés, espumantes e até azeites, em representação de 18 produtores da região sendo realizadas semanalmente provas de vinhos onde são apresentadas as várias ofertas dos vitinicultores. A unidade tem também apostado na parceria com empresas locais proporcionando aos seus hóspedes a possibilidade de ver como é feito o famoso pão alentejano ou pôr mesmo a mão na massa e moldar uma peça em barro do também afamado artesanato da região
Mas não só. Integrado num terreno de 15 hectares, o hotel passou a tirar real partido desta vasta área natural que até então apenas poucos exploravam.
“Sempre nos considerámos um hotel urbano pois estamos a dois passos do centro histórico mas estamos integrados nesta área de 15 hectares que nos faz parecer um hotel rural. E é isso que os clientes procuram – natureza”, acrescenta Miguel Melo Breyner.
Ajustando-se aos novos interesses, a empresa resolveu criar caminhos pedonais e cicláveis que possam transportar as pessoas para o meio do campo e criou ainda um ‘driving-range’ para quem quer praticar umas tacadas de golfe, um espaço que ocupa cerca de um hectare dentro destes 15.
“Criámos circuitos (três), de diferentes distâncias para as pessoas passearem a pé ou de bicicleta, com espaços para descansar e onde possam fazer um piquenique ou uma prova de vinhos debaixo de um sobreiro”, descreve o responsável, realçando a importância das coisas simples e dos momentos que criam memórias.
“Porque é isso que as pessoas hoje querem – regressar ao que é genuíno, regressar ao que é autêntico”, rematou ainda o responsável do Évora Hotel.