O desgaste provocado pela pandemia pode toldar-nos a memória mas não precisamos recuar muito no tempo para nos lembrarmos quão vibrantes eram as cidades de Lisboa e do Porto à conta do fluxo turístico. Um frenesim que estimulou projetos hoteleiros que por estarem já em curso acabaram mesmo por ser terminados. Contas feitas pela consultora Cushman&Wakefield (CW) e apresentadas hoje no seu já tradicional Marketbeat Portugal Primavera mostram que a oferta hoteleira aumentou, desde o início da pandemia, “em 46 novas unidades com cerca de 2.400 quartos, a maioria (36% dos quartos) com classificação 4 estrelas”. Entre estas, diz a CW,destacam-se o Four Points by Sheraton Sesimbra (4 estrelas), o B&B Hotel Lisboa Aeroporto (3 estrelas) e o Neya Porto Hotel (4 estrelas).
Já relativamente a projetos futuros, “inúmeros operadores optaram por adiar estrategicamente a data de conclusão das unidades em construção por um breve período, aguardando a normalização dos níveis de procura”, refere-se no Marketbeat.
Mas não só. “Alguns hotéis ainda em fase de projeto ou licenciamento tenderão a ter seus planos de investimento meticulosamente revistos, o que deverá levar a uma contínua revisão em baixa da nova oferta hoteleira prevista até final de 2023, que reduziu ligeiramente, para 207 estabelecimentos hoteleiros com 17.000 quartos”, refere a consultora.
Cerca de metade desta oferta concentra-se maioritariamente em cidades nas duas áreas metropolitanas, nomeadamente Lisboa (4.000 quartos), Porto (2.200 quartos), Vila Nova de Gaia (1.150 quartos) e Cascais (1.050 quartos).
Portugueses asseguram mais de metade da procura
O setor hoteleiro tem sido um dos mais penalizados pela crise. Em 2020, as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros caíram a pique 65% fixando-se nos 20,6 milhões, o que corresponde a pouco mais de 8 milhões de hóspedes.
A atual pandemia veio também alterar significativamente o perfil da procura. “Por um lado, passou a estar mais alicerçado na procura interna, que perfez 53% das dormidas em 2020, em comparação com 30% no ano anterior. Por outro lado, alargou-se para fora dos principais destinos turísticos, que vinham a ganhar terreno nos últimos anos, com destaque para as regiões do Alentejo e do Centro, que registaram as menores quebras em termos de dormidas, de 42% e 56% respetivamente”, realça a consultora.
A maior recuperação operacional dos ativos hoteleiros foi visível nos meses de verão, chegando a atingir-se 53,6% de ocupação em agosto. A atividade de Alojamento Local foi também largamente impactada, levando em muitos casos ao reposicionamento do produto para o arrendamento de longa duração, suportado por incentivos fiscais.
A chegada de 8,8 milhões de turistas ao território nacional por via aérea concentrou-se maioritariamente no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, que registou 4,6 milhões de turistas desembarcados em 2020, uma contração de 71% face ao ano anterior. Similarmente, as restrições impostas nos portos marítimos limitaram fortemente o turismo de cruzeiros, que registou uma quebra homóloga de 91%, com apenas 50 mil passageiros desembarcados em Lisboa.
De acordo com o INE, a capital terá concentrado 3,5 milhões de dormidas em alojamentos turísticos (incluindo estabelecimentos hoteleiros e alojamento local), dos quais 74% não-residentes.
Em Lisboa registaram-se 10 novas aberturas com um total de 610 novos quartos. As novas unidades apresentam uma média de 60 quartos, apresentando maioritariamente classificação de 3 estrelas, destacando-se o Holiday Inn Express Saldanha com 105 quartos e duas novas aberturas junto ao aeroporto – B&B Hotel Lisboa Aeroporto com 190 quartos e Stay Hotel Lisboa Aeroporto com 80 quartos.
Prevê-se que mais 43 novos hotéis com 4.060 quartos se somem à oferta atual até 2023, designadamente de 5 e 4 estrelas, que respetivamente representam 35% e 29% da oferta anunciada. Entre estes, destaque para o Radisson RED Lisbon Olaias (4 estrelas) com 290 quartos, o Meliá Lisboa (5 estrelas) com 240 quartos e o Moxy Lisbon Oriente (3 estrelas)15 com 220 quartos.
Já a cidade do Porto registou 2,2 milhões de passageiros desembarcados no aeroporto Francisco Sá Carneiro, refletindo um decréscimo homólogo de 66%. Relativamente ao turismo de cruzeiros, a redução no número de passageiros foi mais acentuada, em 93% para apenas 6 mil passageiros.
De acordo com o INE, este terá sido o quarto município com mais dormidas, concentrando cerca de 1,3 milhões de dormidas em alojamentos turísticos (incluindo estabelecimentos hoteleiros e alojamento local), dos quais 72% não-residentes.
Ao longo de 2020, a cidade do Porto contou com 10 novas aberturas de unidades hoteleiras que totalizaram 630 novos quartos, maioritariamente de 4 estrelas (58% da nova oferta). Entre estas, destaque para o Neya Porto Hotel (4 estrelas) com 120 quartos e o Holiday Inn Express Porto (3 estrelas) com 105 quartos.
A oferta futura estimada para a cidade até 2023 totaliza 20 novos hotéis com 2.200 quartos, com as unidades de 4 e 5 estrelas a perfazerem 37% da oferta anunciada. De entre as aberturas previstas, destaque para o hotel com centro de congressos promovido pela IME na Rua do Heroísmo com 300 quartos; e para o The Student Hotel, que apresenta um conceito misto de curta e longa duração no quarteirão D. João I, com um total de 300 unidades.