Há esperança para a classe média/média alta que quer comprar casa em Lisboa mas não chega aos preços praticados atualmente das zonas mais centrais. “2020 vai ser o ano da consolidação da tendência para a construção de raíz direcionada para as famílias portuguesas”, afiançou Gonçalo Santos, responsável pelo departamento de Promoção e Desenvolvimento da consultora JLL, que ontem apresentou o estudo anual sobre o mercado imobiliário em Portugal.
Só nos três principais projetos focados no mercado nacional em Lisboa serão cerca de 3.500 novas casas. A saber: 2.700 casas na Matinha, na freguesia de Marvila (projeto da Vic Properties), 200 no empreendimento Metropolis (da Norfin), no Campo Grande e mais 550 apartamentos na Encosta da Tapada, em Alcântara, um projeto do EMGI Group.
“Mas há muitos mais a surgir em zonas como Carnaxide, Telheiras, Miraflores ou Alta de Lisboa. A tendência de projetos de construção nova, com mais escala, vai consolidar-se e a preços pouco acima dos 3.000 euros o metro quadrado, com o foco na classe média”, reforça o responsável.
Mas a proximidade ao tão disputado centro de Lisboa numa casa a estrear, dentro dos atuais parâmetros da construção, vai ter um custo, diz ainda Gonçalo Santos. “As casas vão ficar mais pequenas para se adequarem ao preço que os portugueses podem pagar”, algo que, aliás, já é há muito uma tendência consolidada em outros países da Europa. Em Espanha ou na Alemanha, a área média de um T3 (a tipologia preferida dos portugueses) ronda os 90 m2. Por cá, este tipo de tipologia varia entre os 120-150 m2.
Assim, refere o estudo, que ao nível da promoção imobiliária “a oportunidade está sobretudo em projetos de desenvolvimento de terrenos, um tipo de ativos disponível no mercado e alinhado com o que os investidores procuram neste momento tanto em termos de dimensão como de ticket total”.
No caso do top 3 dos maiores negócios concretizados em 2019 e já no início deste ano, os já referidos projetos da EMGI, Vic Properties e Norfin envolveram respetivamente investimentos de 300 milhões (investimento total), 140 milhões (só terreno) e 200 milhões (investimento global).
Um outro movimento se está a perfilar e poderá ter um grande impacto no tão deficitário mercado de arrendamento na cidade de Lisboa. Os investidores estrangeiros já perceberam que existem oportunidades de negócio para aplicar por cá o chamado conceito do ‘built to rent’ ou seja edifícios construídos de raíz, focados no arrendamento e geridos por uma só entidade, algo que há muito se aplica em outras cidades cosmopolitas (Londres, por exemplo).
Ou, como aponta o estudo da JLL, um uso misto do empreendimento: “Este é um modelo de negócio que dá os primeiros passos em Portugal e que é perfeitamente ajustável aos grandes empreendimentos que estão neste momento em desenvolvimento, onde uma parte da oferta poderá ser alocada a este tipo de utilização”.
2019 fechou com a marca histórica de 179 mil casas vendidas em todo o território nacional, o equivalente a 25 mil milhões transacionados. Em comparação com o pior ano da década, 2012, quando se venderam apenas 60 mil, representou um acréscimo de 205%.