Estamos a chegar ao fim de outubro e já estão todos a pensar no Natal, certo? Pronto, alguns de vós? Ok, quase ninguém, não é? Pois, mas, se calhar, devíamos todos dar um pouco de atenção antecipada ao tema. Não pelo aspeto das prendas em si – eu cá sou mais da escola do Soup Nazi do Seinfeld e disparo “No gift for you!” em (quase) todas as direções –, mas pela logística envolvida.
O confinamento social provocado pela pandemia levou a limitações no início do ano, que, apesar de umas pequenas oscilações, deverão manter-se no final do ano. No dia em que escrevo este artigo, há limitações para o número de pessoas que podem estar dentro de certos espaços comerciais e é normal ver filas à porta de lojas. Agora imagine-se como será no Natal…
É aqui que entra o comércio eletrónico. Mais do que nunca, esta é uma oportunidade de ouro para as compras digitais singrarem (já todos conhecemos a história de que o caractere chinês para a palavra crise também é usado para expressar a ideia de oportunidade). Contudo, impõe-se uma preparação antecipada. Senão vão-se repetir os episódios ocorridos no início do confinamento, em que os sites dos hipermercados foram abaixo ou que as entregas ao domicílio só seriam possíveis mais de um mês depois. Ninguém estava pronto para esse boom de procura nessa fase, mas agora podemos antecipar problemas para que tudo corra pelo melhor (e quem é que não quer pensar no Natal em outubro?).
É que o comércio eletrónico não é só dar uns cliques e esperar em casa que tudo chegue sem trabalho. Quer dizer, da perspetiva do consumidor, é e deve ser. Mas isso implica gestão de stocks por parte das lojas e um serviço de entregas eficaz. Ora, com milhares de entregas para fazer nos dias que antecipam o Natal, o que acham que vai acontecer? Algumas prendas não vão chegar ao sapatinho a tempo não porque as pessoas se tenham portado mal ao longo do ano (embora, provavelmente, até o tenham feito), mas porque é impraticável dar vazão a tanto serviço. Sejamos honestos, haverá assim tanta gente disposta a fazer uma maratona de compras no shopping na véspera de Natal numa fase em que o número de infetados com o novo coronavírus não para de subir?
Um curioso estudo da Salesforce indica que, a nível global, a pandemia Covid-19 fará disparar as vendas de Natal online em 30% quando comparado com os números do ano passado. Além disso, segundo a tecnológica, “o maior Natal digital da História” poderá ter 700 milhões de encomendas com atraso de entrega. Estes números parecem-me até conservadores.
Assim, o que sugiro é uma espécie de compromisso tripartido. As lojas preparem-se com boas plataformas online e uma gestão de stock eficaz, as empresas de entregas reforçarem equipas e os consumidores fazerem encomendas antecipadas. Sim, bem sei que é utópico, mas estão a pedir-me para festejar uma data em que um senhor anafado anda de renas pelo mundo a distribuir presentes a quem se portou bem durante o ano, portanto deem-me um desconto. Bom Natal! Sim, em outubro.