A rede social TikTok ordenou aos moderadores de conteúdos da plataforma que ‘abafassem’ os vídeos criados por pessoas consideradas feias, pobres ou com deficiências, segundo uma investigação da publicação The Intercept. O meio de comunicação obteve documentos internos da plataforma chinesa, nos quais também existem ordens para que vídeos de cariz político que criticassem o sistema chinês fossem banidos.
De acordo com as informações recolhidas pelo The Intercept, os moderadores receberam ordens explícitas para a limitação de conteúdos de utilizadores com “formas de corpo anormais”, “caras feias”, “barrigas de cerveja”, “problemas nos olhos” e também as que sofressem de nanismo. Mais: se o ambiente no qual o vídeo fosse gravado também tivesse um aspeto “gasto e em ruínas” e mostrasse sinais de pobreza, como favelas, zonas rurais ou casas com paredes com fendas, a ordem era para também limitar, através do algoritmo, o alcance desses conteúdos, que assim nunca chegariam ao separador “Para Você” da rede social.
Nos vídeos em que o utilizador é o principal foco, “se a aparência da pessoa ou o ambiente de filmagem não for bom, o vídeo vai ser muito menos atrativo, não valendo a sua recomendação a novos utilizadores”, lê-se no documento de moderação obtido pela publicação de investigação.
Josh Gartner, porta-voz do TikTok, reagiu dizendo que a “maioria” das regras de transmissões em direto reveladas pelo The Intercept “ou já não estão em vigor ou em alguns casos nunca estiveram” – apesar de não especificar em concreto quais. Sobre a limitação de conteúdos de pessoas consideradas como feias pela plataforma, Josh Gartner disse que eram uma primeira tentativa de “prevenção de bullying” e são regras que já não estão em vigor. De acordo com o The Intercept, no documento não há qualquer referência à palavra bullying e tanto quanto foi possível apurar, as regras estiveram em vigor pelo menos até ao final de 2019.
Os documentos obtidos também revelam que a Bytedance, empresa chinesa responsável pelo TikTok, mantém contacto com alguns influenciadores na plataforma para os informar sobre as alterações de regras de conteúdos que existem, para que possam produzir conteúdos que não venha a ser prejudicado pelo algoritmo de expansão de alcance.
Proibição de discursos políticos
Noutros documentos de moderação de conteúdos da TikTok, o principal foco de contenção é relativo a vídeos com discursos políticos. Publicações que difamassem “funcionários públicos, políticos ou líderes religiosos”, assim como as suas famílias, poderiam levar ao encerramento daquela transmissão e a uma banição temporária da plataforma. Já os conteúdos que fossem considerados pelos moderadores como um perigo “para a segurança nacional” ou “para a honra e interesses nacionais” – neste caso da China –, deveriam ser punidos com a expulsão permanente da rede social.
Em resposta, Josh Gartner não confirmou se estas regras ainda estão em vigor. “Como todas as plataformas, temos políticas para proteger os nossos utilizadores e proteger a segurança nacional, por exemplo, banindo qualquer conta que promova discurso de ódio ou terrorismo”, respondeu apenas sobre o tema das limitações ao discurso político.