Em 2016, um artigo na insuspeita revista Wired classificava a preocupação com a escassez de hélio, que de tempos a tempos vai sendo referida por médicos radiologistas e por cientistas da área da física de plasmas, como exagerada. Afinal tinha acabado de ser descoberta uma nova jazida na Tanzânia e os Estados Unidos mantêm uma reserva que dá para dezenas de anos de utilização a ritmo normal. Só que entretanto deu-se a guerra na Ucrânia e as exportações da Rússia, outro dos principais fornecedores de hélio, estão sob embargo internacional, a Reserva Federal de Hélio, um organismo governamental americano, já ultrapassou a data prevista para a sua privatização (estipulada há 25 anos) e as anunciadas reservas da Tanzânia ainda não começaram sequer a ser exploradas – notícias recentes apontam para 2025 como a data de início das operações.
Dois predicados tornam o hélio numa substância única: é inerte, portanto não reage com outras materiais, e é de todos os elementos aquele que tem o ponto de ebulição mais baixo, -269 graus Celsius, ou 4 graus Kelvin. É também mais leve do que o ar e por isso faz subir os balões e transforma-nos em esquilos falantes quando o inspiramos. Para os radiologistas e para os físicos são as primeiras duas propriedades que interessam. “Enquanto não evapora mantém os 4 Kelvin e por isso é muito usado em todas as tecnologias que pedem frio”, explica Manuel Leite de Almeida, do Campus Tecnológico e Nuclear (CTN), unidade do Instituto Superior Técnico, na Bobadela, Loures, a “única instituição portuguesa a fazer liquefação de hélio.” Estas temperaturas extremamente baixas são essenciais para o funcionamento dos ímanes supercondutores usados nos aparelhos de ressonância magnética e também para a dita física de baixas temperaturas na qual se estuda a supercondutividade. Em novembro do ano passado, o dirigente da Associação Nacional dos Médicos de Radiologia, Ricardo Sampaio, disse em entrevista à TSF que “um dia destes podemos ter de parar as máquinas de ressonância magnética por não haver hélio”, alertando ainda para o aumento dos valores de mercado, da ordem dos 500% “nos anos mais recentes.”