No momento em que falamos, final da tarde de ontem, Eduardo Silva, investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e professor no Instituto de Engenharia do Porto, ainda não sabe se haverá champanhe na cerimónia de lançamento ao mar do navio Mar Profundo. Mas está certo de que “haverá muitos padrinhos e madrinhas.” Hoje é o ponto alto deste projeto que custou 869 mil euros e que vem colmatar uma falha no panorama científico nacional: a inexistência de um navio exclusivamente dedicado ao teste e validação de tecnologia relacionada com o mar. Servirá, por exemplo, para testar ROVs (Veículos Operados Remotamente), validar sensores acústicos, landers, especifica Eduardo Silva, que esteve envolvido na definição do caderno de encargos que orientou o fabrico do navio.
A existência de um navio com esta função representará uma grande poupança a longo prazo, uma vez que até agora a tecnologia em teste tinha de ir a bordo de embarcações como as da Marinha ou do IPMA, que não estão vocacionadas para este tipo de missões. “Não tínhamos nenhum navio com estas características e mesmo a nível europeu não há muitos países que tenham uma embarcação com uma função tão específica”, nota Eduardo Silva.
Concebido de raiz pela NAUTIBER – Estaleiros Navais do Guadiana Lda., e especialmente equipado para apoiar a investigação multidisciplinar no mar, esta embarcação, única em Portugal, permitirá o acesso rápido ao mar profundo, reduzindo os custos tradicionais deste tipo de missões, explica-se em comunicado do INESC, entidade fundadora e coordenadora da TEC4SEA, infraestrutura de investigação reconhecida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), incluída no Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação de Interesse Estratégico (RNIE).
O Mar Profundo permitirá “deslocar para os diversos locais de operações no mar as competências humanas multidisciplinares e a capacidade laboratorial e logística que até agora, e de forma autónoma, a TEC4SEA apenas possuía em terra. A embarcação abre um novo conjunto de possibilidades para o ecossistema científico e económico, reposicionando Portugal neste quadro”, afirma José Manuel Mendonça, Presidente do (INESC TEC).
A embarcação será lançada ao mar hoje de manhã, em Vila Real de Santo António, sob o olhar dos ‘padrinhos’ Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Helena Pereira, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e José Apolinário, presidente da CCDR-Algarve, e claro, Eduardo Silva. Tem 19 metros de comprimento, autonomia de três dias e capacidade para 12 pessoas – cientistas e tripulação. Será operado até às 60 milhas da costa.