A atitude negacionista face à Covid do Presidente do Brasil parece ter tido impacto no seu eleitorado. Num estudo feito por investigadores da Sociedade Mineira de Infectologia e pela Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções verifica-se uma correlação entre o voto em Bolsonaro e um maior número de infeções e de morte por Covid. Os dados analisados são do Estado de Minas Gerais, o segundo maior do Brasil em população, com mais de vinte milhões de habitantes, e dizem respeito aos 853 municípios no qual está subdividido.
No estudo que será apresentado na próxima semana em Lisboa, durante o Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, mostra-se que o número de casos e de mortes foi “substancialmente mais elevado” em municípios onde Bolsonaro ganhou do que naqueles em que perdeu nas eleições presidenciais de 2018.
“O papel dos políticos foi crítico, desde o início da pandemia de Covid”, diz no comunicado publicado no Eurekalert Carlos Starling, da Sociedade Mineira de Infectologia. “O Presidente Jair Bolsonaro negou a gravidade da COVID-19, promoveu tratmentos sem evidência de eficácia e desencorajou a distância social, o uso de máscaras, os lockdowns e outras medidas protetoras, o que provavelmente terá resultado em maiores taxas de infeção e morte de Covid entre os seus apoiantes”, denuncia o investigador.
É provável que se tenham perdido milhares de vidas desnecessariamente pelo facto de o Presidente Bolsonaro ter tratado a Covid-19 como uma ‘gripezinha’
Braulio Couto
Tendo como base dados oficiais públicos de vacinação, infeção e mortalidade, os autores do trabalho verificaram que a diferença na incidência foi de 30% e a de mortalidade de 60% nos municípios onde o apoio eleitoral a Bolsonaro foi maior.
“É provável que se tenham perdido milhares de vidas desnecessariamente pelo facto de o Presidente Bolsonaro ter tratado a Covid-19 como uma ‘gripezinha’, manifestando-se contra os confinamentos, encerramento de escolas e outras medidas preventivas”, diz Braulio Couto, da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções. “No entanto, os nossos resultados indicam que o povo brasileiro tem grande confiança nas vacinas e que as declarações falsas de Bolsonaro a este respeito não impediram a vacinação em massa, com o aumento da taxa de vacinação ao longo do tempo a levar a uma diminuição consistente no número de casos e de mortes.”
A epidemia de Covid-19 causou a morte a 659 mil brasileiros, o terceiro valor mais alto em todo o mundo.