Hoje já parece um cenário longínquo e até irrepetível. Mas há meia dúzia de meses, os hospitais portugueses viviam o que não será exagero chamar de catástrofe. Algumas unidades de saúde chegaram a ter 90% da sua capacidade dedicada a doentes Covid, faltavam camas de cuidados intensivos e as ambulâncias amontoavam-se à porta dos hospitais. Nesta altura de desespero, uma equipa de médicos e enfermeiros alemães veio reforçar o atendimento aos doentes graves, numa resposta a um apelo feito pelo Governo Português. Aterraram em Portugal a 3 de fevereiro e na bagagem trouxeram todo o equipamento necessário para montar uma Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). Como sejam ventiladores, bombas de infusão e monitores de sinais vitais. O que impressionou Valdemiro Líbano Monteiro, Diretor-Adjunto de infra-estruturas do Hospital da Luz, onde a equipa trabalhou até ao final de março, foi a rapidez com que montaram a UCI, revela à Exame Informática.
Depois de se terem inteirado dos procedimentos na unidade de saúde privada e de terem dispensado o responsável pelo controle da infeção que fazia parte da equipa, por se terem apercebido de que não fazia falta, puseram mãos à obra. Descarregaram os camiões que trouxera o material do aeroporto e em quatro horas estava tudo operacional. “Quando já estavam inteirados acerca dos nossos circuitos de admissão de doentes e forma de funcionar disseram ‘vamos descarregar’”, recorda Líbano Monteiro, que fez as honras da casa aos profissionais alemães.
Com uma precisão e rigor típicos de militares, retiraram o material que vinha acomodado em caixas e começaram a montagem do equipamento. “Em quatro horas pegaram naquilo, desencaixotaram e montaram tudo”, descreve. “Transportaram, descarregaram, montaram. As peças seguiam uma ordem dentro das caixas e eles sabiam exatamente onde estava tudo.” Neste mesmo dia, e depois de montados ventiladores, bombas infusoras e monitoras de sinais vitais, a equipa começou a receber os doentes portugueses. Durante o mês e meio em que se mantiveram em Portugal, sendo substituídos ao fim de três semanas, trabalharam sozinhos, numa antiga ala de cuidados intensivos que tinha sido desativada. Deixaram boa impressão, vidas salvas, e o equipamento montado foi doado ao SNS.