É o fim de uma das mais rocambolescas e misteriosas histórias do universo das moedas digitais: a unidade de investigação criminal do Norte da Califórnia conseguiu identificar o detentor daquela que era uma das mais valiosas carteiras de Bitcoin da atualidade – estando agora na posse do dinheiro. O infame endereço 1HQ3Go3ggs8pFnXuHVHRytPCq5fGG8Hbhx, correspondente à dita carteira, continha 69369,16716 bitcoins, o que ao valor de câmbio atual equivale a 905 milhões de euros. Mas este pode ser considerado como um duplo golpe, já que pelo caminho os investigadores encontraram a solução para um outro mistério de longa data.
Em 2015, a justiça norte-americana conseguiu acusar, com sucesso, o cidadão Ross Ulbricht de ter criado um dos maiores mercados negros digitais de venda de droga e armas, o Silk Road. Na época, Ulbricht foi acusado de sete crimes, incluindo tráfico de estupefacientes e lavagem de dinheiro, tendo sido condenado a prisão perpétua.
Apesar de aos olhos do grande público o caso ter terminado, para o departamento de investigação criminal ainda havia um mistério por resolver: onde estava todo o dinheiro que o criminoso tinha faturado durante as suas atividades ilegais? Parte da resposta foi finalmente conhecida.
“A acusação bem sucedida do fundador do Silk Road em 2015 deixou em aberto uma questão de mil milhões de dólares. Para onde foi o dinheiro? Esta confiscação responde a esta questão em aberto, pelo menos a parte dela. Mil milhões de dólares resultantes de crimes estão agora na posse do [governo] dos EUA”, revelou o Departamento de Justiça dos EUA, nesta quinta-feira, citado pela publicação Motherboard.
O comunicado das autoridades pôs um ponto final a um rebuliço que se instalou desde terça-feira: no dia 3 de novembro, a carteira de bitcoins, que não era mexida desde 2015, ficou vazia de um momento para o outro. Instalou-se a especulação sobre o que teria acontecido ao dinheiro – estaria o dono finalmente disposto a começar a gastá-lo? –, mas o desfecho da história é bem mais concreto, com as criptomoedas a terem sido confiscadas.
Individual X
A unidade de investigação criminal do Norte da Califórnia descobriu que um hacker, que é identificado pelos oficiais de justiça sob um pseudónimo – Individual X –, conseguiu, em 2012, ganhar “acesso não autorizado e ilegal” ao mercado Silk Road e roubar parte do dinheiro que tinha sido faturado e que estava guardado numa carteira de bitcoins.
O Individual X moveu as criptomoedas para duas carteiras que controlava e mais tarde foi descoberto, pelo próprio Ross Ulbricht, criador do Silk Road. Confrontado com o roubo, o hacker recusou devolver os bitcoins – e entretanto a justiça iniciou o caso contra Ulbricht. Apesar de ser dono de uma das mais valiosas carteiras de Bitcoin de que há registo, o Individual X simplesmente guardou as quase 64 mil bitcoins que tinha roubado e nunca mais lhes mexeu de 2015.
O valor da carteira – avaliado em mil milhões de dólares atualmente, mas cujo valor varia em função do valor diário da Bitcoin nos mercados nos quais é transacionada – e o seu estatuto de ‘estagnada’ motivou inclusive uma corrida entre hackers para ver se alguém lhe conseguia ganhar acesso.
Agora a justiça americana revela que no dia 3 de novembro, o Individual X assinou um documento de acordo e consentimento na concessão da carteira e das respetivas bitcoins – na prática, consentiu que o dinheiro fosse transferido para o governo dos EUA, sendo agora propriedade desta entidade.
O Departamento da Justiça norte-americano recusou identificar o Individual X, revelando apenas que atualmente tem este cidadão sob custódia. É o fim desta história de mistério, mas ainda há outras por resolver.