Pandemia, guerra, inflação… E agora, como se o rol de desgraças não bastasse, ainda uma crise financeira? A enumeração é um tanto ou quanto apocalíptica, mas já vimos este filme. Outra vez? Os mais informados apelam à calma, chamam a atenção para o facto de as circunstâncias parecerem – e serem, de facto – diferentes das que, no longínquo ano de 2008, levaram à queda do Lehman Brothers. Mas, como se sabe, os mercados financeiros têm tanto de racional como de sensível e, por vezes, estas coisas da perceção diluem a distância entre o ser e o parecer. No caso do Credit Suisse, as circunstância são mesmo diferentes?
A crise no Credit Suisse não é de agora, como aqui explica o Tiago Freire, diretor da Exame e também responsável pela secção de Economia da VISÃO. Mas dois acontecimentos recentes deram o golpe final. Em primeiro lugar, o facto de o regulador americano ter obrigado o banco suíço a incluir no relatório anual de 2022 uma nota em que a instituição admitia “algumas fraquezas materiais” no “controlo interno do reporte financeiro”. Em segundo lugar, o facto de o maior acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank (SNB), ter confirmado, numa entrevista à Bloomberg, que não estaria disponível para pôr mais dinheiro na instituição. E, embora tenha feito referência a questões formais, as declarações tomaram outro alcance. Quando questionado sobre um eventual aumento de participação, Ammar Al Khudairy, presidente do SNB, foi categórico: “A resposta é absolutamente não, por muitas razões, para além da razão mais simples, que tem a ver com estatutos e regulação.”