Já nos idos de 1969, Raúl Rêgo – fundador do PS, diretor do jornal “República”, nos últimos anos do salazarismo, e com uma carreira política no pós 25 de Abril que passou Constituinte e pela secretaria de Estado para a Comunicação Social – lembrava, num opúsculo sobre os “Políticos e o Poder Económico”, que a “fiscalização da opinião pública é bem mais eficiente para a moralidade administrativa do que quantas leis se publiquem e quantas cadeias se construam”.
É que à avalanche legislativa segue-se a inundação jurisprudencial, a tal interpretação da lei, que acaba por resultar em casos como o de Tancos: grande parte da prova foi anulada devido ao célebre acórdão do Tribunal Constitucional sobre os metadados. Encolher os ombros parece ser a única saída para o problema, que foi diagnosticado pelo procurador Rui Cardoso, em entrevista do Diário de Notícias Por mais cadeias que se construam, estas não serão para o chamado crime de colarinho branco. Resta a “fiscalização da opinião pública” feita, em grande medida, pelos jornalistas.