A polémica em torno da substituição do chefe do Estado Maior da Armada, que surge muito antes do final do mandato do almirante António Mendes Calado, em nada contribuiu para robustecer a boa imagem do vice-almirante – agora promovido a almirante – Henrique Gouveia e Melo. Mendes Calado retira-se, é certo, “mas não por sua vontade”, como fez questão de vincar, publicamente. Tendo acordado, com a tutela, em sair antes do final do mandato – daqui a uns meses – não há qualquer explicação plausível para esta “antecipação da antecipação”, exceto o facto novo de as eleições legislativas terem sido marcadas para 30 de janeiro. A crise política terá, assim, levado o Governo a apressar o processo, antes que um futuro executivo revertesse a decisão.
Gouveia e Melo, um ilustre desconhecido, antes de ter assumido a liderança da task force que cumpriu, com brilho, a complicadíssima tarefa de aplicar o Plano Nacional de Vacinação – e de vacinar todos os portugueses em tempo recorde – passou a ser uma espécie de “herói popular”, reconhecido pela sua competência, capacidade de organização, liderança e, até, desassombro comunicacional. O envolvimento do seu nome numa jogada que parecia ter inconfessadas motivações políticas – Mendes Calado não era um entusiasta da reforma das Forças Armadas que o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, impôs às hierarquias militares – só podia fragilizar a sua autoridade.