O programa tem o intuito de ser uma ação de sensibilização ou um programa de autoajuda?
Não se trata de uma plataforma digital para funcionar no SNS, antes um projeto para capacitar profissionais dos cuidados de saúde primários (CSP) a otimizarem o diagnóstico e tratamento da depressão e do risco de suicídio, a nível nacional. Isso já é feito pela Aliança Europeia Contra a Depressão em mais de 20 países. Foi feito em quatro concelhos portugueses, com melhoria de resultados na suicidalidade, na redução da prescrição de ansiolíticos e no conhecimento, atitudes e competências de todos os profissionais.
A iniciativa pode substituir-se a outras medidas, mais onerosas para o SNS, como a contratação de mais profissionais?
A EUTIMIA não se pronuncia sobre a capacidade instalada nos CSP, por não ser da sua competência. O projeto não é financiado pelo orçamento do Estado, mas pelas EEA Grants, e destina-se a aperfeiçoar o trabalho de equipa com os recursos que tem, através da gestão integrada da depressão. A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) distribui o dinheiro pelos projetos que foram a concurso e ganharam. Em nove financiados, ganhámos dois. O que é oneroso para o país é ter 17 a 20 pessoas por cada 100 com depressão ligeira a moderada, que não conseguem trabalhar ou fazem-no com baixa produtividade. Sabemos que vão ao centro de saúde e que a maioria não está a receber qualquer tipo de tratamento.
Há quem considere a eficácia do programa discutível, sobretudo nos casos graves, que precisam de ajuda mais especializada.
Nunca afirmei que as pessoas com depressão moderada a grave, e grave, eram candidatas à autoajuda guiada por tecnologia. É falso. Até porque essas têm indicação para serem referenciadas para serviços especializados de saúde mental hospitalar, não devem permanecer nos CSP. Não se pretende substituir profissionais. O programa depende deles para ter sucesso. A maioria das pessoas não têm indicação para essa ferramenta, mas as que têm e aderem, obtêm benefícios que não teriam, ou porque não responderam a outros tipos de intervenção ou porque os rejeitaram. Entre eles, muitos jovens e homens, dois grupos de risco importantes e que usam esses tipos de dispositivos.
Quem tem smartphones também pode instalar apps existentes no mercado, sem ir ao SNS…
Esta app, gratuita, está referenciada como o ‘estado da arte’ europeu e foi desenvolvida com o contributo português, num projeto anterior financiado pela Comissão Europeia. Como o próprio nome indica, a autoajuda guiada exige acordo prévio entre a equipa e o utente, de que será vantajoso para este usá-la, se assim desejar. E que implica a presença semanal de um terapeuta para aferir como o doente se encontra. Não fazemos saúde mental orientada por ideias mas sim pela evidência científica e a experiência construída e vamos avaliá-la, no final.