“Estamos a fazer este vídeo, porque o Pizzaboy disse que se consegue dinheiro na internet sem fazer a ponta de um corno.” Era assim, num vídeo de animação, que Dog Mendonça, ex-lobisomem sem papas na língua, inaugurava o crowdfunding para a produção e distribuição de As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy III Requiem, de Filipe Melo e dos argentinos Juan Cavia e Santiago Villa. “Como a maioria dos portugueses, eu era um bocadinho desconfiado do crowdfunding”, confessa o argumentista, realizador e músico, mas foi convencido pelo desenhador Cavia, e colocaram na plataforma PPL o pedido de ajuda para concretizarem o terceiro volume desta BD premiada (editada nos EUA pela Dark Horse Comics). Cada tostão angariado para desenhar, colorir e fazer balonagem nas 105 páginas, prometiam, seria traduzido em “sangue, suor e lágrimas para trazer a melhor das três aventuras”. A 1 de novembro de 2013, a campanha atingiu 166% do objetivo.
Cerca de €2 mil foram usados na produção do livro, o restante foi gasto nas recompensas prometidas aos financiadores: reproduções de desenhos, pins, T-shirts, agradecimentos nos créditos, pranchas originais ou mesmo figuração no livro, de acordo com os montantes doados (de €25 a €500). “Isto implica muito trabalho, sobretudo quando se oferecem recompensas honestas. Mas é importante não sabotar o processo de crowdfunding, e que a pessoa se sinta feliz por ter participado”, defende Filipe.
Compensou? “Sim. Uma BD leva ano e meio a fazer e o mercado português não permite um avanço financeiro nesta área. Foi uma aventura e peras, da qual não me arrependo.” Santiago Villa lançou entretanto outra campanha, na plataforma Kickstarter, para produzir um jogo baseado nestas Aventuras e conseguiu os 30 mil dólares pedidos.
“Num mundo ideal, o crowdfunding não seria necessário”, diz Filipe Melo.
“Eu quero conseguir fazer coisas sem recorrer ao crowdfunding.”