Sem saber ler nem escrever, Noémia Maria, 76 anos, acredita piamente nos conselhos da técnica de ação social, Joana Clemente. Depois de uma vida inteira a trabalhar numa loja de artesanato da Baixa de Lisboa ficou com uma reforma de 256 euros. Sem o apoio dos três filhos – todos emigrados em França, dois dos quais até já perdeu o rasto -, uma vez por mês a alentejana de Santiago do Cacém recebe um saco do Banco Alimentar. Moradora na freguesia dos Anjos há 48 anos, conta com os perecíveis desde 2010, quando chegou ao fim a sua colaboração remunerada de cinco anos no Centro de Dia Nossa Senhora dos Anjos. Lugar onde, curiosamente, agora almoça e lancha.
Noémia é apenas uma entre cerca de 110 pessoas, num total de 60 agregados familiares, que recorreu ao apoio da ação social da Junta de Freguesia dos Anjos. A maior novidade do recém-lançado cartão solidário Anjo Mais é reunir todos os benefícios num só “documento”, tornando a situação de carência menos estigmatizante. “Ainda há muita pobreza envergonhada e negligência familiar”, assegura Joana Clemente. Num universo de 9 300 habitantes, aproximadamente, os pedidos de apoio vão aumentar. De seis em seis meses os casos serão reavaliados, mediante esta fórmula: aos rendimentos são subtraídas as despesas, o remanescente é dividido pelo número de pessoas do agregado e esse valor per capita determina o acesso ao cartão Anjo Mais.
Na farmácia, onde gasta 30 euros em medicamentos para a diabetes e a tensão alta, Noémia verá a fatura descer para metade. A verba disponibilizada para custear despesas nas seis farmácias aderentes, resulta da poupança feita nas iluminações natalícias. Se chegar uma carta do seu senhorio, poderá ir a uma consulta jurídica para perceber os seus direitos no que à lei das rendas de casa diz respeito. Nos próximos 18 meses está dispensada de pagar a quota de serviço cobrada pela EPAL. E, depois de uma cirurgia ortopédica, marcada para maio, vai inscrever-se, gratuitamente, na natação e na universidade sénior.