O professor assistente de economia Yusuke Narita, que exerce na Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut, EUA, sugeriu, em entrevistas dadas em 2021 e outras aparições públicas, que a “única solução” para prevenir as consequências negativas do envelhecimento da sociedade era o “suicídio em massa” para os idosos desse país.
De acordo com o Telegraph, o professor de 37 anos afirmou, várias vezes, que esta resolução era “bastante clara”. “No final, não é suicídio em massa e seppuku para os idosos?”, referiu, em entrevista. Seppuku é um ritual suicida japonês em que os samurais se suicidavam por esventramento.
Noutro momento, em 2022, uma criança pediu a Narita que explicasse a sua teoria sobre este ritual e a ligação ao suicídio em massa o professor descreveu uma cena do filme de terror sueco de 2019, Midsommar: O Ritual, em que é indicado ao membro mais velho de um grupo de culto que se atire de um penhasco. “Se isso é bom ou não, é uma pergunta difícil de responder”, afirmou, na altura, acrescentando que, se a criança considerava que era uma coisa positiva, talvez pudesse “esforçar-se para criar uma sociedade” como aquela.
Agora, em declarações ao The New York Times, o professor garante que as suas declarações “foram tiradas de contexto” e que a expressão “suicídio em massa” era uma “metáfora”, acrescentando que o que queria dizer com a expressão era que devia começar a haver um esforço crescente para retirar as pessoas mais velhas de cargos de liderança tanto económicos como políticos, para dar oportunidades às gerações mais jovens.
Foi precisamente graças às suas posições extremas que Narita, que realiza investigações técnicas de algoritmos com utilização em políticas de educação e saúde, arrecadou centenas de milhares de seguidores nas redes sociais no Japão, principalmente jovens que acreditam que o progresso económico do país tem sido impedido pelo envelhecimento da sociedade. O especialista disse que estava “principalmente preocupado com o fenómeno no Japão, onde os mesmos magnatas continuam a dominar o mundo da política, indústrias tradicionais e media, entretenimento e jornalismo há muitos anos”.
Ainda assim, reconheceu ao jornal norte-americano que devia ter sido “mais cuidadoso com as potenciais conotações negativas” daquilo que afirmou, acrescentando que deixou de utilizar a expressão “suicídio em massa” no ano passado, “depois de alguma autorreflexão”.
Os críticos têm afirmado que as ideias de Narita, além de irresponsáveis, são perigosas, referindo que o especialista aborda as consequências de existir uma população envelhecida no país sem sugerir medidas ou soluções realistas.
Alguns legisladores defendem, por outro lado, que as afirmações do professor podem abrir portas para conversas necessárias. Na verdade, ideias deste género não são recentes: há cerca de uma década, por exemplo, o ministro das finanças do país na altura, Taro Aso, tinha sugerido que os idosos deveriam “apressar-se e morrer”.
Ao The New York Times, Narita abordou ainda o tema da eutanásia (voluntária e involuntária), referindo que “é uma questão complexa e cheia de nuances” e que a hipótese de a tornar “obrigatória” pode vir a ser “discutida de forma mais ampla”. Inquéritos realizados no país indicaram que a maioria dos japoneses defende a legalização da eutanásia, se essa for a vontade da pessoa.
Estatísticas oficias do Japão divulgadas no ano passado, e citadas pelo Telegraph, estimam que os idosos com mais de 75 anos representassem 15% da população do país e que as pessoas com mais de 65 anos representassem 29,1% tornando a população japonesa na mais velha do mundo. O número de idosos que sofrem de demência ou morrem completamente sozinhos também tem aumentado no país.