A ideia para o estudo surgiu-lhe na sala de espera do dentista. Ludmil Alexandrov, docente de bioengenharia e de medicina celular e molecular na Universidade da Califórnia em San Diego, leu numa revista que uma jovem participante num concurso de beleza tinha sido diagnosticada com cancro da pele num dedo da mão. Pareceu-lhe estranho. A curiosidade levou-o a pesquisar em jornais médicos e deparou-se com outros casos semelhantes, por exemplo de esteticistas, que pareciam ter em comum o uso regular de verniz de gel e de unhas de gel, cuja aplicação requer secadores que emitem radiação ultravioleta. A mesma que emana da luz solar e, estima-se, é responsável por 90% dos cancros da pele.
“E o que vimos era que havia zero compreensão molecular sobre o que estes aparelhos fazem às células humanas”, conta Alexandrov, na página oficial da universidade norte-americana. Razão mais do que suficiente para seguir em frente com o projeto.
“Padrões de mutações exatamente os mesmos” observados em pacientes com cancro da pele
Os resultados da investigação foram conhecidos esta semana: o uso dos secadores de unhas numa sessão de 20 minutos “levou a 20 a 30% de morte celular, enquanto três sessões consecutivas de 20 minutos causou a morte de entre 65 e 70% das células expostas”. Alexandrov, um dos vários responsáveis pela pesquisa, acrescenta que também foram identificados danos no ADN das células, através de “padrões de mutações” que são “exatamente os mesmos” observados em pacientes com cancro da pele.
Para estabelecer uma relação direta entre a exposição aos secadores de unhas e um aumento do risco da doença, ressalvam os investigadores, será preciso realizar um estudo epidemiológico a longo prazo que assim o demonstre, mas as alterações agora identificadas nas células apresentam, pelo menos, esse potencial.
O que fazer para minimizar o risco
Não é a primeira vez que a comunidade médica é confrontada com esta possibilidade, mas até hoje não existem restrições ao uso destes produtos. O entendimento é o de que, uma vez que a exposição à radiação é de curta duração, não existem consequências significativas para a saúde de quem a eles recorre. Pode não ser assim, segundo as conclusões deste novo estudo.
De forma preventiva, existem alguns conselhos clínicos para minimizar os riscos, nomeadamente a opção por um aparelho com luz LED (emitem menos radiação UV), o uso de protetor solar nas mãos (com exceção das unhas) durante o procedimento – ou, em alternativa, de luvas protetoras anti UV – e reservar o dito para ocasiões especiais, evitando a sua repetição várias vezes por mês.