Seja a falar de Carlos III ou a contar a petite histoire, nunca perde o sentido de humor. Há algumas – “escabrosas”, assume – na última obra, A Viúva de Windsor (Oficina do Livro), sobre o reinado de Isabel II. José de Bouza Serrano (Lisboa, 1950) é um monárquico que teve na diplomacia uma segunda pele. Esteve colocado nas embaixadas de Madrid, Bruxelas, Santa Sé, Ordem Soberana e Militar de Malta, Copenhaga e Haia, nas duas últimas como embaixador. Entre outros cargos, foi chefe do Protocolo do Estado e da Inspeção-geral Diplomática e Consular do Ministério dos Negócios Estrangeiros, funções nas quais se reformou. Tinha 6 anos quando viu Isabel II no Rossio, e a sua devoção monárquica começou ali. Bouza Serrano mantém-se, pois, fiel ao regime que considera “uma reserva da República”. E explica porquê.
Quais foram as luzes e sombras do longo reinado de Isabel II?
Ficam mais luzes do que sombras. Ela valorizou a instituição e, ao contrário de Eduardo VII, a quem a rainha Vitória não deixava ler um único papel de Estado, o rei Carlos III acompanhou sempre os assuntos próximo da mãe. Isabel II consolidou a monarquia e a Commonwealth, projeto do pai que juntava os leftovers e os restos do Império Britânico. Enquanto os políticos entram e saem, prometem, faltam e desaparecem, a rainha foi uma sólida rocha. Nunca pôde exprimir publicamente o que pensava, nem mesmo sobre políticas e traições dos governos a que deu posse, mas era sábia e esteve lúcida até ao fim. Dois erros de julgamento poderiam ter prejudicado a instituição: um, em 1966, quando uma mina de carvão colapsou no País de Gales e soterrou parte da aldeia de Aberfan, matando 116 crianças e 28 adultos. Demorou oito dias a reagir, mas cedeu às insistências do primeiro-ministro Wilson e deslocou-se lá. O outro erro, um remake da síndrome de Aberfan, é a morte da princesa Diana. Aí, foi Tony Blair quem a desafiou a dar a cara. Nestas crises de avaliação, foi sempre salva por governos trabalhistas.