O acordo era aparentemente simples: se o resultado da biopsia ao intestino de José Vitória, 56 anos, revelasse um cancro, haveriam de lhe telefonar algures no próximo mês. Se, pelo contrário, a amostra das células não fosse maligna, o empresário de móveis de Constância (Santarém) não precisaria de ficar inquieto com o silêncio do Serviço Nacional de Saúde (SNS), então a braços com o seu maior teste de esforço – a pandemia de Covid-19. O exame foi realizado a 8 de setembro de 2020. José Vitória recebeu o telefonema do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, um ano e dois meses depois. Tinha cancro nos intestinos.
A estranheza do contacto do hospital, que o apanhou a meio do dia de trabalho, deu lugar a um susto que ainda tem dificuldade em descrever. O médico desfez-se em desculpas e apresentou-lhe como justificação que “o processo tinha ficado esquecido”. “Andava a mexer em documentos quando encontrou o resultado da biopsia e ficou muito preocupado. Ligou-me de imediato”, diz José Vitória. O relatório apontava para neoplasia (um tumor) ainda em fase inicial – grau um de quatro na avaliação de risco. Todavia, quando começou a ser tratado estava já a entrar no terceiro grau.