Seja pela sensação de não-controlo, seja pelo medo de o avião cair, a turbulência faz-nos pensar em variados cenários (pessimistas, diga-se, neste caso) e pode fazer apenas cinco minutos parecerem horas.
Mas afinal o que é este fenómeno? A turbulência é um movimento irregular do fluxo de ar vertical, ou seja, são remoinhos de ar caóticos. Assim como as ondas do mar fazem os barcos balançar, este fenómeno provoca um desequilíbrio no avião e pode ser originado por pressões atmosféricas, por correntes de jato de ar ou pelo ar em montanhas altas.
A turbulência pode ser classificada de acordo com uma escala: leve, moderada e severa. A primeira é caracterizada apenas por uma “tensão contra o cinto de segurança. O serviço de refeições a bordo pode continuar e provavelmente consegue-se andar na cabine, talvez com alguma dificuldade”, de acordo com Paul Williams, professor de ciência atmosférica da Universidade de Reading, Reino Unido, citado pela CNN.
“Depois há turbulência moderada, uma tensão definida contra os cintos de segurança. Qualquer coisa que não esteja segura será deslocada e caminhar é difícil. Os assistentes de bordo são normalmente instruídos a ocupar os seus lugares”, explica Paul. Por fim, “o pior tipo é a turbulência severa: esta é mais forte do que a gravidade, por isso pode prender-nos ao assento e se não estivermos a usar o cinto de segurança seremos projetados. Este é o tipo de turbulência que causa lesões graves – sabe-se, por exemplo, que parte ossos”, conclui.
Williams menciona, também, um outro tipo de turbulência, chamada de “ar limpo”, que ocorre quando o céu está limpo e é caracterizada pela sua imprevisibilidade. As turbulências em áreas de céu limpo não são detetadas pelos instrumentos aéreos nem os pilotos as conseguem prever. Apesar de ser um fenómeno raro, pode causar lesões moderadas e graves, pois ocorre quando ninguém está à espera e a tripulação não tem tempo de instruir tão repentinamente os passageiros para colocar o cinto de segurança.
A culpa é do aquecimento global
A investigação, levada a cabo pelo investigador e publicada na SpringerLink, sugere que o aumento da turbulência está relacionado com as mudanças climáticas a que assistimos cada vez mais. De acordo com o estudo, prevê-se que as tesouras de vento verticais (as conhecidas windshear ou correntes de ar com ventos divergentes), que abanam os aviões em voo, fiquem mais fortes e frequentes.
O investigador, ao fazer algumas simulações de computador, descobriu que a turbulência mais forte pode duplicar ou triplicar nas próximas décadas. As descobertas foram verificadas por observações e Paul Williams prevê que a turbulência de ar limpo aumentará significativamente entre 2050 e 2080, com maior evidência nas rotas de voo mais movimentadas.
No entanto, isto não significa que seja menos seguro viajar. “Os aviões não vão começar a cair do céu, porque as aeronaves são construídas com especificidades muito altas e podem suportar a pior turbulência possível, mesmo no futuro”, elucida o investigador. O que irá acontecer é o aumento do tempo médio de turbulência: “normalmente, num voo transatlântico, podemos esperar dez minutos de turbulência. Em poucas décadas, pode aumentar para vinte minutos ou meia hora. O sinal do cinto de segurança será acionado muito mais vezes, infelizmente para os passageiros”, explica.
Será que algum dia iremos conseguir prever totalmente a turbulência?
Apesar de as previsões meteorológicas e os relatórios dos pilotos serem úteis para evitar as zonas com maior turbulência, são ferramentas relativamente simples. “
“Os modelos meteorológicos não podem prever turbulência em escalas de tamanho de um avião e os pilotos muitas vezes dão informações erradas sobre os locais turbulentos por muitos quilómetros”, afirma Robert Sharman, investigador de turbulência do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), EUA, citado pela National Geographic.
Na sequência da dificuldade em prever a turbulência, o cientista trabalha desde 2005 num projeto de construção de ferramentas mais precisas de turbulência repentina. A proposta, que desenvolve um mecanismo capaz de detetar a movimentação do ar em áreas de céu limpo, baseia-se num algoritmo instalado em cerca de mil companhias aéreas comerciais que analisa informações de sensores de bordo para caracterizar o movimento de cada avião em qualquer momento. Ao utilizar a velocidade de avanço, a velocidade do vento, a pressão do ar e o ângulo de rotação, o algoritmo gera um nível de turbulência atmosférica local, o que ajuda a reforçar os modelos de previsão meteorológica.