A organização sem fins lucrativos Public Interest Registry (PIR), sediada no estado da Virgínia, nos EUA, foi criada em 2002 para gerir os domínios da internet que terminam no sufixo .org. Defende que é “um dos domínios mais confiáveis” que permite “às pessoas e às empresas de todo o mundo terem uma identidade online confiável”. Em muitos sites ostenta-se o domínio .org como um padrão de confiança para quem lê.
No entanto, parece que essa “bitola” não existe. Uma análise feita pela NewsGuard, uma ferramenta de jornalismo e tecnologia que avalia a credibilidade dos sites de notícias e informação e rastreia a desinformação online, e publicada na revista Newsweek, encontrou muitos sites com este sufixo que transmitem desinformação sobre a Covid-19 ou a política norte-americana, entre outros assuntos.
Dos 290 sites .org que constam da base de dados da NewsGuard relativa aos EUA, quase 20% (56) estão marcados a vermelho (“Red rated”) e classificados como “não confiável”. A responsável do PIR, despois de questionada pela NewsGuard disse, citada pela Newsweek, que o papel da empresa não é monitorizar a qualidade dos sites.
“A PIR não monitoriza a fidedignidade da informação dos mais de 10,6 milhões de sites com o domínio .org. Esse tipo de revisão é mais adequado às empresas que acolher esses conteúdos”, disse Judy Song-Marshal, responsável do PIR.
Comprar um registo .org não é caro. Os preços variam um pouco, mas começam nos 9,99 dólares por ano (cerca de €9,10). Em 2013, a PIR fez um inquérito a pessoas dos EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Brasil e Índia: 66% revelou acreditar “existir algum critério para se poder comprar um domínio .org”.
Algumas grandes universidades poderão ter contribuído para que este mal entendido se espalhasse. A universidade de Harvard, por exemplo, é uma das que refere que os site .org são tipicamente de organizações não governamentais, o que não acontece na realidade.
Um dos sites .org rastreados pelo NewsGuard, a que atribuíram a etiqueta de “não confiável”, e que pertence a um grupo antiaborto, foi o domínio “vermelho” que mais interação de artigos teve nas redes sociais e que repetidamente publica notícias falsas.
Em agosto de 2020, este site publicou um texto com o título “Reportagem: Os contracetivos orais aumentam o risco de coágulos no sangue fatais em quem tem Covid-19” ligando, de forma falsa, os contracetivos à Covid-19, com um link para um estudo. No entanto, o link não é de estudo algum, mas sim de um artigo de opinião em que se diz precisamente o contrário, que “não existe risco acrescido”.
O artigo publicado em agosto de 2020 teve, até dia 1 de fevereiro de 2022, cerca de 8500 comentários e partilhas no Facebook.