Dos supermercados a restaurantes e fábricas, têm soado alertas sobre a escassez de alimentos, que vir a pode agravar-se até ao Natal. Na última quarta-feira, o diretor executivo dos supermercados Iceland, Richard Walker, informou que a cadeia está a ficar sem alguns produtos, como por exemplo pão e refrigerantes, embora a empresa esteja a tentar solucionar o problema.
O grupo Tesco também disse, na quinta-feira, que os supermercados já têm alguns produtos indisponíveis e a rival, Co-op Food, advertiu que está a recrutar 3 mil trabalhadores temporários para ajudar a manter as prateleiras cheias. “A escassez está a um nível pior do que em qualquer altura que já vi”, salientou Steve Murrells, diretor executivo da Co-op.
Na última terça-feira, o grupo McDonald’s tinha também já anunciado que os “smoothies” e as bebidas engarrafadas foram retiradas dos seus estabelecimentos no Reino Unido e, na semana passada, a rede de restaurantes Nando’s também se viu obrigada a fechar quase 50 estabelecimentos porque estava a ficar sem frango – usado no prato mais vendido -, devido à escassez de trabalhadores nas empresas fornecedoras. A cadeia americana KFC avisou também que está a notar a escassez de alguns produtos do seu menu, e a rede de restaurantes de luxo Novikov está a ficar sem carne Wagyu.
Porque é que isto está a acontecer?
Os grupos industriais atribuem a escassez de trabalhadores ao Brexit, que dificulta a entrada de trabalhadores da União Europeia (UE) no Reino Unido e tem feito com que os cidadãos europeus que ocupavam determinados postos de trabalho – camionistas, agricultores e do setor de processamento de alimentos, saiam do país. A piorar este cenário existe o aumento das regras restritivas devido à pandemia de coronavírus, que fez com que as pessoas se isolassem, o que provocou atrasos nas cadeias globais de abastecimento.
“Quando não há pessoas, existe um problema, e isto é algo que estamos a ver ao longo de toda a cadeia de abastecimento. A crise laboral foi provocada pelo Brexit, e tem-se notado amplamente em todo o sector alimentar e de bebidas”, referiu Richard Griffiths, chefe executivo da organização dos empresários do sector avícola (British Poultry Council), citado pela CNN.
A escassez que os consumidores estão a ver nos últimos dias e semanas, por exemplo, no Nando’s e no McDonald’s, “realça o imenso impacto que esta [escassez de camionistas] está a ter nas empresas”, explicou, por seu lado, Richard Walker, diretor executivo da cadeia de supermercados Iceland, num comunicado, acrescentando que “a verdadeira preocupação é que o tempo está a esgotar-se rapidamente à medida que nos aproximamos do período natalício extremamente atarefado, durante o qual uma forte cadeia de abastecimento é vital para todos”.
De acordo com a Road Haulage Association – empresa dedicada aos interesses da indústria do transporte rodoviário -, o Reino Unido tem falta de cerca de 100 mil camionistas, dos quais 20 mil são cidadãos da União Europeia, que deixaram o país depois do Brexit e, segundo a Associação Britânica de Processadores de Carne, as fábricas de acondicionamento de carne estão a sofrer uma escassez de pessoal de cerca de 14% devido à saída dos trabalhadores para a Europa, provocando um atraso de seis semanas na produção de salsichas embrulhadas em bacon para as refeições de Natal.
No setor avícola, segundo Griffiths, já foi feita uma redução na produção nacional de frangos para 10%, e 16% dos postos de trabalho da indústria não estão atualmente preenchidos. Além disso, a produção de perus para o Natal vai ser também reduzida para um quinto, advertiu.
Este problema, que, de acordo com Walker, está a acontecer devido à incapacidade que o governo tem em dar a importância devida ao trabalho dos camionistas, fez com que Helen Dickinson, chefe executiva do British Retail Consortium – que garante a segurança alimentar e implementação de critérios da qualidade – apelasse ao governo para aumentar rapidamente o número de exames de condução para camionistas, oferecer vistos temporários aos trabalhadores da União Europeia e mudar a forma como a formação dos camionistas é financiada.
Griffiths, do British Poultry Council, realçou ainda que o governo devia também estender o programa de apoio dos trabalhadores agrícolas sazonais para os trabalhadores do setor da carne.