O NOVAFRICA, um centro da Nova SBE que se dedica à investigação na área do desenvolvimento económico e empresarial nos PALOP, fez parte de um estudo global que avaliou a confiança e aceitação na vacina contra a Covid-19 em 10 países em desenvolvimento na Ásia, em África e na América do Sul. Os resultados do trabalho de campo, realizado entre junho de 2020 e janeiro de 2021 foram publicados este mês na conceituada revista Nature, em forma de estudo.
A principal conclusão, tal como nos disse Mattia Fracchia, um dos investigadores envolvidos no projeto multinacional, é que a “aceitação em todos os países em desenvolvimento é maior do que nos países de comparação”. A saber: uma média de 80% dos entrevistados contra 65% dos inquiridos nos Estados Unidos e apenas 30% na Rússia, os escolhidos enquanto países de médio e alto rendimento. No topo da aceitação está o Nepal, com um score de 96,6% e nos antípodes aparece o Burkina Faso, com 66,5% – ainda assim acima da média das respostas dos americanos.
De realçar que, quando as 44 mil entrevistas foram realizadas, por mais de 30 instituições, nenhuma das atuais vacinas estava já a ser administrada. O centro da Nova SBE juntou-se ao International Growth Centre (IGC), ao Innovations for Poverty Action (IPA), ao WZB Berlin Social Science Center, ao Yale Institute for Global Health, à Yale Research Initiative on Innovation and Scale (Y-RISE) e à HSE University, em Moscovo, na Rússia, partilhando os dados recolhidos em Moçambique. O artigo publicado na Nature é assinado por 75 autores de todo o mundo.
A proteção contra a doença foi a principal razão apontada para a aceitação da vacina entre os participantes do estudo (91%) e a preocupação com os efeitos colaterais (44%) o motivo mais comum para a hesitação. Como seria desejável, os profissionais de saúde são considerados as fontes de informação mais confiáveis sobre as vacinas contra a Covid-19.
E as vacinas que nunca mais chegam?
As conclusões deste estudo são conhecidas num momento em que os envios de vacinas estão a demorar muito tempo a chegar à maioria da população mundial, enquanto os casos de Covid-19 aumentam em África, Ásia e América Latina. Na maioria dos casos, as campanhas já começaram, mas a um ritmo demasiado brando. E há sempre o desafio das infraestruturas para vencer, como as cadeias de frio para preservar as doses, a deslocação a locais remotos e a formação de profissionais de saúde.
Em Moçambique, por exemplo, país em que a aceitação se situa nos 89,1%, até agora foram fornecidas apenas duas doses para cada 100 pessoas. E apenas um em cada centena de habitantes está totalmente imunizado contra o coronavírus.
“Os próximos meses serão fundamentais para os governos e organizações internacionais desenharem as estratégias de comunicação mais eficazes para maximizar a tomada das vacinas pela população. Os governos devem usar evidências como as apresentadas neste estudo para informarem as suas decisões.”, nota Pedro Vicente, professor da Nova SBE e diretor científico do NOVAFRICA, bem como co-autor do estudo.
Mattia Fracchia adianta que a sua equipa vai propor às autoridades locais que a comunicação em Moçambique se desenvolva a três níveis, para que “as boas intenções reveladas no estudo se transformem em boas ações e a confiança na vacina e nas equipas de saúde aumente. Em primeiro lugar, devem espalhar uma mensagem simples sobre os benefícios da vacinação, de seguida alavancar a experiência positiva no combate à poliomielite às custas de uma forte campanha de inoculação e paralelamente criar uma intervenção inovadora e interativa revelando os mecanismos por trás das fake news.
Saad Omer, diretor do Instituto de Saúde Global de Yale e co-autor do estudo, refere que “o que vimos na Europa, nos EUA e em outros países sugere que a hesitação sobre a tomada da vacina pode complicar as decisões políticas, impedindo assim a rápida e generalizada da sua adoção. Os governos dos países em desenvolvimento devem começar a envolver pessoas de confiança, como profissionais de saúde, para transmitir mensagens sobre os efeitos colaterais, de forma precisa e equilibrada, tornando a informação mais acessível ao público”.