Nos últimos dias, tem circulado nas redes sociais um quadro que, supostamente, prova o falhanço da estratégia de vacinação em massa em Israel. Os dados, partilhados por páginas de desinformação, mostram que a maior parte das infeções pelo vírus SARS-CoV-2 acontece na população israelita vacinada.
É verdade que o número de casos no país tem vindo a aumentar desde meados de junho, devido à elevada transmissibilidade da nova variante dominante, a Delta. No entanto, na segunda-feira, dia 19, registaram-se 1 220 casos, ainda muito longe do recorde atingido no final de janeiro de quase 12 mil infeções diárias. Aliás, a média dos últimos sete dias fica-se pelos 945 novos doentes (apenas 11% da média contabilizada a 17 de janeiro).
No entanto, uma vez que 85% da população adulta foi inoculada, há cerca de cinco vezes mais pessoas vacinadas do que não vacinadas, o que explica que, proporcionalmente, existam mais infetados entre os imunizados. No dia 13 de julho, 399 (53%) novos casos registaram-se em vacinados e 320 (42%) em não vacinados.
A epidemiologista Katelyn Jetelina, docente na Universidade do Texas, explicou o fenómeno ao jornal The Washington Post: “Quanto mais vacinada estiver uma população, mais ouviremos falar de casos entre as pessoas inoculadas. Se tivermos uma comunidade 100% vacinada, por exemplo, e o vírus estiver a circular, sabemos que vão acontecer infeções. Por isso, por definição, 100% dos casos serão em pessoas vacinadas, mas será um número [absoluto] muito pequeno”.
Mas mais importante do que olhar para os casos é olhar para o número de hospitalizações. Na última semana, foram internadas 72 pessoas em unidades de cuidados intensivos (UCI) em Israel. Em janeiro, chegaram a ser admitidos quase 1 200 doentes críticos numa semana. Já nas enfermarias entraram 148 infetados nos últimos sete dias, muito menos dos que os quase 2 mil da semana do pico de janeiro.
A maioria dos internados está vacinada, já que representa o maior grupo da população. Além disso, um idoso vacinado de 80 anos continua a ter uma maior probabilidade de ser admitido num hospital do que um jovem saudável de 30 anos.
Os dados do governo israelita mostram que a vacina da Pfizer/BioNtech é menos eficaz a prevenir infeções provocadas pela Delta (64%) do que era contra a Alpha (95%). Também a doença sintomática tornou-se mais comum entre os vacinados, já que 64% estão protegidos contra a variante inicialmente identificada na Índia (eram 97% conta a Alpha). Contudo, a inoculação continua a ser extremamente eficaz a evitar hospitalizações, prevenindo 93% dos casos graves.
Ao nível do número de mortos, o contrastante é ainda mais gritante. Nos últimos três meses, morreram cerca de cem pessoas vítimas da covid-19 no país, enquanto em janeiro chegaram a registar-se uma centena de mortos por dia. Agora, a média dos últimos sete dias não chega às duas mortes diárias.
Atualmente, os casos registados são um décimo dos do início do ano, as hospitalizações cerca de um dezasseis avos e as admissões em UCI à volta de um vigésimo das de então. A taxa de positividade dos vacinados não chega aos 2%.
Também é fundamental sublinhar que, desde o aparecimento das vacinas, a percentagem de doentes críticos desceu de 4% (durante a terceira vaga) para 1,3%, dados que comprovam a eficácia da campanha de vacinação em Israel.