2020 foi o ano de todos os cancelamentos. A pandemia de Covid-19 cancelou a vida como a conhecíamos: o trabalho, os encontros com amigos e familiares, as refeições fora, os espetáculos, os abraços, ao mesmo tempo de introduziu o medo nas atividades mais simples e que tínhamos como garantidas. Agora que as vacinas estão aí e o processo de imunização já está em curso, podemos olhar para 2021 com alguma esperança.
Se o novo ano não tiver nada na manga capaz de nos trocar as voltas de forma tão dramática, podemos contar com algumas coisas positivas para os próximos meses.
1- Imunidade de grupo
Começamos com esta porque esta, a concretizar-nos, garante-nos uma vida mais perto do normal. E são vários os especialistas a apontar que seja possível no segundo semestre.
2 – Os Jogos Olímpicos
Estavam marcados para 2020, mas, claro, foram adiados. O adiamento causou diversos constrangimentos, em especial a nível logístico e financeiro, obrigando a prorrogar contratos de pessoal da organização, a renegociar acordos com patrocinadores e a reembolsar cerca de 800 mil bilhetes que já estavam vendidos. Agora, os Jogos Olímpicos de Tóquio2020 (sim, a designação mantém-se) deverão realizar-se entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021, com o evento a custar cerca de 13 mil milhões de euros, sendo os mais caros da história.
O Comité Olímpico Internacional (COI) expressa “total compromisso e confiança” no sucesso de uma organização “em segurança” dos Jogos, mesmo em contexto de pandemia mundial.
3 -Festival Eurovisão da Canção
O concurso tem uma legião de fãs que não puderam vibrar com sempre empolgante votação dos países participantes. A 65ª edição do Festival Eurovisão da Canção, que se realiza anualmente na Europa desde 1956, deveria ter acontecido em maio de 2020, em Roterdão, mas a União Europeia de Radiodifusão, por considerar que não estavam reunidas condições para a sua realização, decidiu adiá-la um ano. Agora está marcada para maio, nos Países Baixos.
Os concorrentes vão gravar ao vivo as atuações nos seus países, de modo a garantir que o concurso acontece, caso estejam impedidos de viajar. “Esperemos que todos, ou a maioria, dos concorrentes possam viajar para Roterdão em maio, mas termos a gravação da atuação ao vivo garante que esta será vista por milhões de espectadores, aconteça o que acontecer”, refere a organização.
Em 2020, Portugal iria estar representado com a canção “Medo de Sentir”, interpretada por Elisa e composta por Marta Carvalho. Em 2021, será outro o tema a representar Portugal, que irá ser escolhido no Festival da Canção da RTP.
4 – Campeonato Europeu de Futebol
Este ano, Portugal vai defender o título de campeão europeu que conquistou em 2016 e que reteve por mais um ano devido ao adiamento do Euro2020 de futebol. O Europeu de 2020 realiza-se em 12 cidades de 12 países entre 11 de junho e 11 de julho. Portugal está no Grupo F e vai defrontar Hungria, Alemanha e França.
Por outro lado, 2021 será o ano da fase de qualificação europeia para o Mundial2022, que, ao contrário do habitual, face aos constrangimentos causados pela pandemia, ficará definida em oito meses, entre março e novembro, com o conjunto luso a ficar integrado no mesmo grupo de Sérvia, República da Irlanda, Luxemburgo e Azerbaijão.
5 – O ano do Ambiente
Não é que 2020 tenha sido mau em termos ambientais, mas as melhorias registadas ficaram a dever-se ao facto de grande parte da população e da economia ter ficado parada. Este ano, espera-se, o mundo vai agir nesse sentido e não limitar-se a reagir a uma pandemia. A Cimeira de Glasgow (COP26) sobre o clima, que estava marcada para dezembro de 2020, foi adiada e agora está prevista para novembro.
A cidade escocesa vai receber a 26.ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas e espera-se que os países reforcem contribuições políticas e financeiras para cumprir o Acordo de Paris de 2015.
Das Nações Unidas veio no fim do ano um apelo para compromissos políticos, financeiros e simbólicos renovados, com o secretário-geral da organização, António Guterres, a pedir a todos os países que declarem “estado de emergência climática” até que consigam atingir a neutralidade em emissões de gases com efeito de estufa. O objetivo traçado por Guterres para 2021 é uma “coligação alargada” que permita que em 2050 as emissões de gases com efeito de estufa sejam reduzidas ao ponto de poderem ser contrabalançadas com a capacidade de o coberto vegetal e os oceanos da Terra as absorverem de volta.
Durante 2021 há ainda muito caminho a fazer para tentar resolver as pontas soltas que foram ficando desde 2015, como a regulação do mercado de emissões.
6 – O primeiro filme de ficção gravado no espaço
Foi a própria NASA a confirmar, no ano passado, o projeto de gravar a primeira longa-metragem da história na Estação Espacial Internacional. O protagonista vai ser Tom Cruise. Já é costume a estrela de “Missão: Impossível” e “Top Gun”, 38 anos, gravar as suas próprias cenas de ação, mas, desta vez, vai, literalmente, mais longe.
7 – Concertos
Já para a semana os irmãos Luísa e Salvador Sobral apresentam-se ao vivo, nos dias 6 e 7, no Teatro Tivoli, em Lisboa, mas o ano promete ser bem recheado de espetáculos para compensar 2020, incluindo o regresso dos Guns N’ Roses ao Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras e Skunk Anansie nos Coliseus. Confirmados estão também, para já, o North Music Festival, o NOS Primavera Sound, o Rock in Rio, o EDP Cool Jazz, o Sumol Summer Fest, o NOS Alive, o Super Bock Super Rock e o Meo Sudoeste entre vários outros.
8 – Viagens internacionais
Uma das coisas de que muitos sentiram a falta este ano, a juntar a tudo o resto, foi a possibilidade de viajar. Voos cancelados, quarentenas obrigatórias, testes obrigatórios, viajar em 2020 transformou-se num processo complicado, que deverá descomplicar-se (ou adaptar-se) ao longo de 2021 de forma a permitir o regresso do turismo.
O Conselho Mundial de Turismo e Viagens (WTTC – World Travel and Tourism Council) defende o “restaurar imediato das viagens internacionais utilizando processos comprovados” em vez de esperar pelos efeito da vacinação ou torná-la obrigatória, embora o organismo reconheça que, a prazo, as vacinas “têm um papel essencial a combater o coronavírus e a restaurar as viagens internacionais”.
9 – Cinema português em sala
O impacto da pandemia no panorama cinematográfico português teve particular incidência na exibição comercial em sala, com menos estreias cinematográficas, encerramento temporário de salas e uma enorme retração no consumo por parte dos espectadores.
Mais de uma dezena de filmes portugueses deverá estrear-se em 2021 no circuito comercial, mas ainda sem datas confirmadas. A distribuidora NOS Audiovisuais, líder do mercado, tem pelo menos cinco longas-metragens portuguesas confirmadas para estreia em 2021, todas sem data anunciada, entre as quais “Sombra”, de Bruno Gascon, e “Amadeo”, de Vicente Alves do Ó. Além daqueles dois filmes, a NOS Audiovisuais conta ainda distribuir, entre outros, “O sentido da vida”, de Miguel Gonçalves Mendes, “O último animal”, de Leonel Vieira, com elenco português e brasileiro, e “O som que desce da terra”, de Sérgio Graciano.
Para 2021, o realizador e produtor da Bando à Parte, que tem vários projetos em mãos, conta estrear “Mar infinito”, um filme de ficção científica de Carlos Amaral, “Mabata Mata”, do realizador moçambicano Sol de Carvalho, o documentário “Távola de Rocha”, de Samuel Barbosa sobre Paulo Rocha, e, ainda sem certezas, “Não sou nada”, de Edgar Pêra, rodado já em contexto de pandemia.
Contactado pela agência Lusa, o produtor Luís Urbano, da O Som e a Fúria, disse que tem dois projetos para estrear em 2021, um deles possivelmente para o natal, mas, por prudência de calendários, fecha-se ‘em copas’ sobre eles. No planeamento sobre 2021, o produtor, que acaba de ser premiado pelo programa europeu Eurimages, aguarda a calendarização dos festivais de cinema e faz contas à imunização da população, com a administração das vacinas contra a covid-19, para perceber como é que se poderá circular no próximo ano.
Para 2021 está também planeada a chegada aos cinemas de “A metamorfose dos pássaros”, a premiada longa-metragem de Catarina Vasconcelos, e a estreia só não aconteceu antes “por causa da situação da covid-19 e pelo facto de os exibidores não estarem a arriscar muito”, disse à agência Lusa Ana Isabel Strindberg, da Portugal Film, que o irá distribuir. “A metamorfose dos pássaros” tem estado em circulação internacional por mais de 40 festivais e mostras de cinema, onde tem colhido vários prémios.
10 – Um pouco de normalidade
Terminamos como começámos, com um ponto que resume tudo o que tanta falta nos fez nos últimos meses e que inclui os jantares, os cafés, os treinos, as conversas sem ecrã pelo meio, os abraços – sem medo e sem risco.