Andar de transportes públicos em tempos de pandemia pode ser um desafio, mas este novo estudo vem ajudar a clarificar como funcionam os contágios dentro dos comboios, dando pistas para prevenir novas infeções.
Os investigadores examinaram as possibilidades de infeção numa carruagem que transportava uma pessoa infetada, com base nas rotas de alta velocidade da China e com os dados da empresa WorldPop, especialista em mapeamento populacional.
“A nossa investigação é a primeira a quantificar o risco individual de transmissão de Covid-19 no transporte público com base em dados de investigações epidemiológicas de casos de doenças e seus contactos próximos em comboios de alta velocidade. O estudo também mostra que o risco de transmissão não está relacionado apenas com a distância da pessoa infetada, mas também ao tempo em que ela está presente no comboio”, conclui um dos autores do estudo, Andy Tatem.
As pessoas que estão sentadas a uma distância de três filas e cinco colunas de uma pessoa infetada (paciente-índice), dependendo da sua localização, estão expostas a uma probabilidade de infeção entre 0% e 10%. A taxa média de transmissão para esses viajantes foi de 0,32%. Como é natural, os passageiros que estão no banco adjacente ao do infetado apresentam uma maior percentagem de infeção, em média de 3,5%, diferente dos que estão na mesma fila, que têm uma média de 1,5% de possibilidade de contágio.
Mas o estudo, para além de concluir que a distância é importante, também analisou a duração de cada viagem, concluindo assim que quanto mais tempo dura, mais aumenta a possibilidade de contágio. Assim, cada hora que passa, a percentagem de contágio aumenta 0,15% para os pacientes mais distantes e 1,3% nos pacientes que estão sentados mais próximos do infetado. Esta percentagem foi prevista através da “taxa incidência”, calculada através do número de passageiros num determinado assento com diagnóstico de Covis-19, dividido pelo número total de passageiros viajando no mesmo assento.
Outra conclusão interessante do estudo é que o risco de contrair o vírus ao sentar-se no mesmo assento que anteriormente foi ocupado por um paciente contaminado era de apenas 0,075%.
“O nosso estudo mostra que, embora exista um risco maior de transmissão de Covid-19 nos comboios, a localização do assento de uma pessoa e o tempo de viagem com uma pessoa infetada podem fazer uma grande diferença na transmissão. Os resultados sugerem que durante a pandemia é importante reduzir a densidade de passageiros e promover medidas de higiene pessoal, o uso de máscaras faciais e, possivelmente, realizar verificações de temperatura antes do embarque “, explica Shengjie Lai, também autor do estudo.
O novo estudo, publicado na revista Clinical Infectious Diseases, foi elaborado por investigadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, em colaboração com a Academia Chinesa de Ciências, a Academia Chinesa de Eletrónica e Ciências da Informação e o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças.
“Esperemos que este estudo possa ajudar a informar as autoridades em todo o mundo sobre as medidas necessárias para levar a cabo a proteção perante o vírus e, por sua vez, ajudar a reduzir sua disseminação”, refere ainda Tatem.
Os dados utilizados são dos dias entre 19 de dezembro de 2019 e 6 de março de 2020 e envolveram 2334 “pacientes-índice” e 72 093 de seus contatos próximos. A duração das viagens variava entre menos de uma hora e oito horas.