As pragas de gafanhotos que, atualmente, assolam a África Oriental e o Iémen (Médio Oriente) podem custar aos países afetados, só este ano, 8,5 mil milhões de dólares (cerca de 7,5 mil milhões de euros), segundo as contas do Banco Mundial. Daí a urgência de as controlar. Até agora, são três as hipóteses: matá-los com pesticidas (mas isto prejudica o ambiente), utilizá-los como fonte de alimentos para outros animais e para os humanos, e confundi-los com o seu próprio cheiro.
Os cientistas e investigadores do Centro Internacional de Fisiologia e Ecologia de Insetos (ICIPE) de Nairóbi, no Quénia, que fizeram parte do desenvolvimento do fungo Metarhizium acridum, que já foi testado em pragas anteriores, estão a testar novas 500 novas espécies de fungos e micróbios capazes de matar gafanhotos sem prejudicar outras criaturas. Os gafanhotos são geralmente mortos com pesticidas antes de serem capazes de voar, mas estes químicos prejudicam o meio ambiente e outros animais.
A pesquisa, liderada por Baldwyn Torto, cientista no ICIPE, foca-se principalmente nos cheiros e feromonas [substância segregada por um animal e reconhecida por animais da mesma espécie na comunicação e no reconhecimento] dos gafanhotos. O investigador descobriu uma forma de combater a praga: os gafanhotos, antes de conseguirem voar, têm um cheiro que é reconhecido pela espécie toda e é esse cheiro que lhes permite andar em grupo e pertencer à comunidade jovem. Mas, quando cresce, o gafanhoto muda o seu aroma. A ideia é disseminar o perfume de um gafanhoto adulto entre os mais jovens para poder ajudar a destruir enxames. “Eles ficam desorientados, o grupo desfaz-se em pedaços, acabam por se comerem uns aos outros (canibalismo) e tornam-se ainda mais suscetíveis aos biopesticidas”, disse o investigador.
Assim que são apanhados, os gafanhotos podem ser consumidos. “O que precisam de fazer é torná-los apresentáveis, com bom aspeto, para quem vai comer pela primeira vez”, disse Tanga, que, também ele, come gafanhotos no refeitório do laboratório que são preparados pelos chefes de cozinha do ICIPE. Fritos com tártaro, em espetadas com legumes ou até em kebabs:”Para mim, eu como 100% do o que for crocante.”
Em 2015, foi realizado um estudo conjunto entre o ICIPE, a Universidade de Agricultura e Tecnologia Jomo Kenyatta e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, que demonstrou que a carne dos gafanhotos do deserto é rica em compostos que possuem propriedades redutoras do colesterol, que podem ajudar a reduzir o risco de doenças cardíacas.
“Uma das maneiras de controlar os enxames é evitar afugentá-los”, disse, na altura, Muo Kasina, presidente da Sociedade Entomológica do Quénia. “Nós precisamos de encontrar uma forma de os apanhar. Tentamos encorajar os nossos agricultores a prepará-los e faze-los perceber que podem fazer uma deliciosa refeição com os gafanhotos”.