Desde meados de março que a Península Ibérica está oficialmente parada devido à pandemia. Os barcos deixaram de circular, os aviões praticamente não se fazem ouvir e não há turistas em massa em parte alguma. Os efeitos disso não se fizeram esperar. Só na reserva marinha Es Freus, entre as ilhas de Ibiza e Formentera, entre meados de março e o início de maio, o ruído foi reduzido para metade quando comparado às mesmas datas dos anos de 2018 e 2019.
A observação é de Manu San Félix, biólogo marinho e explorador da National Geographic, que escuta cetáceos há mais de 20 anos. Assim que a quarentena começou, meteu-se no seu veleiro e começou a colocar hidrofones a trinta metros de profundidade. No verão, aquela reserva é das mais ruidosas do Mediterrâneo ocidental. Mas o que San Félix ouviu foi silêncio.
Agora, as expectativas são grandes. Como o período de confinamento coincidiu com a época reprodutiva de chocos, polvos e lagosta, no final do verão aquele investigador já espera poder mostrar as consequências da desocupação humana daquelas águas.“Vamos certamente observar que, ao reduzir-se um pouco a pressão sobre ela, a natureza agradece”, afirma o biólogo.
Comer e socializar, à superfície
Já há outros sinais disso mesmo. Veja-se: no primeiro mês de quarentena, o Mediterrâneo ocidental registou 15 avistamentos de tubarões-frade, o que não é comum. É sabido que aqueles animais não gostam de ruído. Aproveitando também o decréscimo da pesca comercial, isso permitiu que passassem mais tempo à superfície. “A comer e a socializar”, frisa San Felix. Mais um caso em que o confinamento coincidiu com a época de acasalamento.
E isto, segundo o biólogo, são boas notícias. “Significa que o mar tem uma grande capacidade de regeneração. Como os ciclos de reprodução são mais rápidos do que com animais ou flora terrestre, a recuperação dos stocks de peixe será bastante rápida”. Mas não só, alerta San Félix. “Quer também dizer que foi o ser humano que expulsou os animais dos seus habitats naturais. E que não podemos continuar a explorar sem limites.”