“Fazemos triagem nos centros de saúde, através de chamadas e de consultas presenciais. Com base nos sintomas e nos exames, decidimos se encaminhamos para casa com acompanhamento à distância, feito por enfermeiros, ou se vão para o hospital. Após a alta, têm de ficar 14 dias isolados, mas se a residência tiver só uma casa de banho e for impossível manter um correcto isolamento, isso deixa de ser possível e a alternativa é ficar em hotéis, de maneira gratuita. O mais difícil é ficarem privados das visitas familiares, só podem comunicar por telemóvel ou videochamadas.
Embora nunca tenha visto nada comparável ao que têm sido os últimos dias, a situação no hospital está a melhorar. Tanto aqui como nos centros de saúde notamos uma menor afluência às urgências e menos pessoas suspeitas de Covid-19 e a quarentena foi prolongada até ao dia 22 de abril.
Na urgência, temos visto vários jovens com radiografias horríveis, que apresentam graves dificuldades respiratórias, pneumonias bilaterais e uma saturação de oxigénio no sangue baixíssima, pela afetação do pulmão. Pensa-se que, por terem um sistema imunológico mais forte, possam reagir de forma mais agressiva ao vírus. Por enquanto, não sabemos nem podemos tirar conclusões. Nestes momentos já tememos até um segundo pico, que está descrito na evolução das pandemias.
Não temos a certeza de como pode evoluir esta crise. Vale-nos o ambiente fantástico que temos aqui, a entreajuda
No hospital de campanha, que está bem organizado, há 1 500 camas e cem são de unidade de cuidados intensivos. A maioria dos pacientes apresenta quadros leves com necessidade de tratamentos intravenosos e de vigilância. Os que apresentam mais sintomas são mulheres sul americanas e pessoas com obesidade abdominal. Desconhecemos a razão, pensamos que possa haver uma predisposição genética para a ativação do vírus pelo macrófago e que produz uma tempestade de citoquinas.
É preocupante e moralmente demolidor para nós ver pacientes tão afetados, havendo ainda pouca evidência científica quanto aos tratamentos a ministrar. Há uma grande ansiedade, nos familiares com infetados em casa e entre o pessoal de saúde. Tenho colegas que estão a viver longe de casa para proteger os seus. Além disso, não temos a certeza de como pode evoluir esta crise. Vale-nos o ambiente fantástico que temos aqui, a entreajuda. É também evidente o apoio da população madrilena.