Às 18h07 de quinta-feira chegava a notificação da mensagem no grupo para troca de ideias, criado na plataforma de conversação Slack. “Boa tarde, um alerta para um fenómeno paralelo ao Covid. Ontem fui dar sangue ao Instituto Português do Sangue (…) faz falta para necessidades de outras doenças/urgências que continuam a ocorrer em paralelo à Covid-19. Talvez um designer possa fazer um cartaz para se difundir nas redes sociais?” Vem de um dos cerca de 2500 voluntários que colaboram atualmente com o movimento tech4COVID19. Apenas uma hora depois, Liliana Pinho, outra voluntária e responsável pelo Marketing e Comunicação, responde com uma mensagem encaminhada a outro departamento: “faz sentido! Podemos agilizar com a equipa de design?”
No caos é que surgiram as soluções
Liliana Pinho, voluntária e responsável pelo Marketing e Comunicação DO #TECH4COVID19
Criado depois de um debate no Whatsapp entre fundadores de startups nacionais, sobre a pandemia de Covid-19, na passada sexta-feira, 13, o movimento surge para criar soluções tecnológicas para ajudar quem combate o coronavírus na linha da frente, como os profissionais de saúde. Em 48 horas reuniram-se digitalmente 600 pessoas, de 120 empresas diferentes, e a partilha de conhecimentos entre engenheiros, designers, marketeers, profissionais de saúde, entre muitas outras especialidades, resultou num plano que incluía 12 ferramentas contra o coronavírus. Hoje são 27 projetos em curso e três já estão a ser executados e, mais importante, a produzir resultados.
Os 3 projetos já em execução
STOP COVID-19
É uma campanha de angariação de fundos levada a cabo pela plataforma GoParity, membro da tech4COVID19, para adquirir equipamento médico como máscaras, luvas e fatos de proteção, ou o que for necessário, que será doado a centros hospitalares e unidades de saúde. O objetivo inicial é conseguir 100 mil euros e à data já foram angariados quase de 35 mil euros.
#WeMoveIt
A LUGGit, plataforma de recolha e entrega de bagagens, disponibiliza-se para fazer serviços de entregas entre amigos e família para facilitar o transporte de roupa, comida, medicamentos ou outros objetos que necessitem de ser trocados durante o tempo de contingência. Apenas três horas depois da divulgação deste projeto estavam a ser entregues 10 refeições no hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Consultas Online
A juntar a outras iniciativas que já vemos acontecer noutros meios digitais, as startups Better Now, Knok Healthcare e Zaask juntaram-se ao movimento tech4COVID19, oferecendo serviços de prestação de cuidados de saúde primários gratuitos. Estas startups têm soluções para vídeo e consultas médicas grátis, aproximando profissionais de saúde de pacientes através das suas plataformas.
Esta sexta-feira é também lançada uma plataforma que reúne os esforços de Hotéis, Pousadas da Juventude, Alojamentos Locais e o Turismo de Portugal, para alojar profissionais de saúde. Até ao momento há já 500 quartos disponíveis, 400 pedidos e 25 compatibilidades confirmadas. Destina-se a quem necessita de um lugar para isolamento ou para aqueles que precisam de se deslocar do seu território de residência habitual para ajudar noutros lugares.

A velocidade a que tudo acontece é alucinante. No Slack, desde sábado, 14, já foram trocadas mais de 75 mil mensagens. Dos 27 projetos em curso há aqueles que já estão fechados, ou seja, prontos para entrar em vigor e os que estão na fase do desenvolvimento da ideia. Sobre estes, Liliana Pinho, a responsável pela comunicação, diz não querer falar para não criar expectativas sobre o que ainda não é certo.
Afinal de contas, estamos a falar do esforço de voluntários que, solidariamente e pro-bono, se reuniram para, juntos, utilizar a tecnologia para o bem, em prol de quem precisa. No caso de Liliana, Brand Marketing Executive da Infraspeak, foi-lhe permitido pela empresa que se dedicasse quase na totalidade à causa da tech4COVID19. Não é a única dali. O próprio CEO, Filipe D’Ávila Costa, é um dos três elementos que por estes dias, carregam a maioria do seu horário com este movimento. Acontece que o horário acaba por se tornar maior. Como estas pessoas, há muitas outras que não se poupam pela iniciativa. Servindo de exemplo mais uma vez, quando começou a ajudar o movimento, Liliana Pinho acabou por sentir necessidade de ajuda e daí surgiu um grupo de cerca de 30 pessoas dedicadas a trabalhar na comunicação e divulgação. Pessoas que não se conheciam e que nunca se viram. Reúnem-se à distância, e em segurança, com os dispositivos eletrónicos a servirem esta união.
Por falar em dispositivos eletrónicos… é através deles que poderemos aceder em breve a mais um dos projetos saídos da tech4COVID19: uma aplicação que nos permite rastrear e avaliar o nosso estado de saúde e dos mais próximos. Uma das razões pelas quais ainda não foi lançada tem que ver com o nome que terá. O surgimento de uma aplicação que, alegadamente, faz este rastreamento, chamada “COVIDTRACKER” fez com que a tech4COVID19 tivesse que repensar a aplicação, para que não confundisse os utilizadores. “Tivemos de mudar o nome por causa das aplicações falsas. A nossa não está de todo relacionada com a aplicação fraudulenta”, sublinha Liliana Pinho.
Uma nota pessoal para terminar: num grupo de Whatsapp onde converso com os meus amigos, ouvi falar pela primeira vez do movimento tech4COVID19, onde três deles já estavam incluídos. E juntei-me. Antes terminar este artigo vou ver as últimas mensagens que circulam no Slack e vejo alguém dar a ideia de uma aplicação para verificar o estado das filas nos supermercados e stocks. Talvez para evitar ajuntamentos e deslocações necessárias. Onde é que já ouvi isso? Já sei. A tech4COVID19 já está a desenvolver uma aplicação para esse efeito. E, entretanto, soube que um designer já fez os cartazes de apelo à dádiva de sangue. Isto sim, é movimento.