Enquanto puder, Marta Lopes, 29 anos, de quarentena em Florença, quer manter o exercício físico ao ar livre. “Voltei há pouco da corrida. Espero que não seja a última, porque em Itália até isso já se discute, proibir as corridas. Talvez apertem o controlo nos próximos dias”, conta à VISÃO a economista portuguesa. Marta apenas sai de casa para ir às compras, mas por enquanto reserva-se o direito de ir correr. “Até agora, nos 11 dias de lockdown, só fui uma vez às compras. Acho que não preciso de mais nada até ao dia 3 de abril. De qualquer maneira, se necessitar de alguma coisa, darei preferência ao comércio local, que continua aberto em horário reduzido e com medidas ainda mais restritas.” Para sair, Marta tem um protocolo muito específico. Envolve, explica, dois produtos desinfetantes e antibacterianos, banho e roupa logo na máquina.
Desde logo, Marta Lopes tem uma lista reduzida do número de pessoas com quem contacta: “Basicamente, o meu colega de casa e duas amigas com quem vou correr, de forma intercalada, a uma distância de dois metros”. Quando sai à rua, Marta tem a preocupação de não tocar diretamente nas portas do prédio. Como não tem uma máscara, leva sempre um lenço para tapar a boca se se cruzar com alguém. “Se me cruzo com alguém no passeio, mudo de lado”, diz. Leva sempre o cabelo apanhado e, além disso, usa os óculos escuros para “os olhos não estarem tão vulneráveis”. Usa as luvas apenas quando vai ao minimercado. “De resto, não toco em nada na rua, não me encosto a nada, não me sento em banco algum. Durante o tempo que estou na rua, também não toco na minha cara. Inclusivamente, não atendo chamadas telefónicas, se for preciso, uso o alta-voz.”
Quando chega a casa, o seu protocolo prossegue – e é ainda mais pormenorizado. Os sapatos (usa sempre os mesmos) ficam à porta. Mal entra, lava as mãos. Também desinfeta o telemóvel e os óculos escuros. A roupa vai toda para a máquina de lavar e, se por acaso tiver usado um casaco mais forte, deixa-o a arejar no estendal durante a noite. De seguida, toma banho. Marta tem a preocupação de manter a casa sempre arejada. “Abro as janelas alternadamente, em diferentes divisões”, conta. “No meio disto tudo, levo para a rua o meu gel desinfetante e, em casa, tenho outro desinfetante que ponho, superficialmente, nas coisas que compro. Também uso um spray desinfetante de superfícies para o casaco e para a mochila das compras”. E remata: “É um protocolo que estabeleci para minimizar o contágio. Não sei se algumas coisas são exageradas, mas prejudicar não prejudicam”. Depois da corrida (e uma vez cumprido todo o protocolo), Marta consulta os números oficiais dos infetados e dos mortos. Ontem, houve más notícias: mais 427 mortos, num total de 3405 vítimas. Mais do que na China. E por ironia, da varanda onde trabalha, Marta ouviu pela primeira vez o toque de finados.