Uma tempestade de gafanhotos do deserto tem vindo a destruir a maioria das plantações da região do sudoeste asiático, colocando alguns países como o Paquistão em estado de emergência nacional. Para combater o problema, a China anunciou agora o envio de mais de 100 mil patos que chegarão ao país a partir da fronteira terrestre com o Paquistão e a Índia.
O “exército” de patos funcionará como uma “arma biológica” mais eficaz do que os pesticidas que nas últimas semanas tem vindo a ser lançados do céu a partir de drones e helicópteros financiados pelas ajudas (de mais de 10 milhões de euros) disponibilizadas até esta altura pela agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla inglesa).
“Cada pato tem a capacidade de comer mais de 200 gafanhotos por dia”, disse à CGTN Lu Lizhi, investigador da Academia de Ciências da Agricultura de Zhejiang, para sublinhar a eficácia que estes animais podem ter na erradicação desta praga de gafanhotos. A ONU diz que esta já é a maior infestação de insetos dos últimos 25 anos.
Num vídeo publicado no Twitter da CGTN é possível ver-se milhares de patos organizados como um exéercito. Na legenda lê-se : “Tropa de patos” reúne-se na fronteira para enfrentar enxame de gafanhotos.”
Além do sudeste asiático, a praga de gafanhotos estendeu-se também às regiões do Corno de África (no nordeste do continente), a partir do Mar Vermelho, e parece não dar tréguas às autoridades. As nuvens de insetos podem atingir vários quilómetros quadrados e juntar milhões de indivíduos que precisam de uma quantidade de alimento equivalente às necessidades de 35 mil pessoas por dia, segundo avançou a FAO. Mais, cada uma destas nuvens pode destruir em média 192 milhões de quilos de vegetação num só dia. Nestas condições, a FAO estima que até junho de 2020 o número de insetos possa crescer 500 vezes.
As alterações climáticas
Ao que parece, as alterações climáticas são a principal causa deste surto: “O aumento da temperatura dos oceanos favorece a formação de furacões, que atraíram os insetos a África desde o Médio Oriente” explicou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Segundo os especialistas, o aquecimento das águas dos oceanos e o crescimento das emissões de carbono para a atmosfera são a principal causa do aumento dos furacões naquela região. A manterem-se estas condições, a frequência destes fenómenos pode ainda aumentar. Segundo um estudo publicado pela revista Nature em 2014, os furacões podem passar de 1 a cada 17,3 anos para 1 a cada 6,3 anos. Só em 2019, foram oito os ciclones registados no leste da África. Por isso, os cientistas esperam que no futuro novos surtos de gafanhotos afetem esta mesma região.
A poucos dias da chuva
Quénia, Somália, Etiópia, Sudão, Sudão do sul, Uganda, Tanzânia, Paquistão e Índia já estão a defender-se das nuvens de milhares de gafanhotos a partir da pulverização de pesticidas lançados por drones e helicópteros. No entanto, a falta de redes de telemóvel dificulta a tarefa e impede que as equipas em terra consigam comunicar as coordenadas ao pessoal de voo. Aos agricultores dos minifúndios ou da agricultura de subsistência resta-lhes bater em panelas para produzir um ruído agudo que afugente estes bichos…
Uma coisa é certa para os especialistas: os próximos dias são cruciais para erradicar esta praga de insetos antes das chuvas esperadas para o início de março, segundo apontam as previsões meteorológicas. A partir dessa altura, crescerá nova vegetação que torna ainda mais complicada a tarefa de eliminar este problema – pode amentar 500 vezes até junho, quando o tempo mais seco regressar à região.
Soluções à vista
A ONU já disponibilizou cerca de 10 milhões de euros para as estratégias de combate à praga de gafanhotos, no entanto, a FAO calcula que serão precisos 75 milhões de euros para que a campanha tenha sucesso. Entre 2003 e 2005, uma invasão de gafanhotos semelhantes custou mais de 2 mil milhões de euros em perdas alimentares para mais de 20 países no norte de África. As últimas estimativas prevêem que esta praga pode deixar mais de 84 milhões de pessoas sem comida só no Quénia.
O método do biocontrolo também é uma hipótese já equacionada pelos cientistas. Existem alguns fungos que atuam em determinados tipos de gafanhotos e esta pode ser uma boa solução para eliminar os gafanhotos, além disso com menos impacto para a natureza. Keith Cressman, da FAO, já veio dizer que está a ser estudada uma nova estratégia.