Frutos silvestres, sementes e raízes. Foi tudo o que María Oliva Pérez, de 40 anos, e os seus três filhos, Mayi Alexandra, Geraldin e Jean Carlos, de 14, 12 e 10 anos, comeram durante mais de um mês, perdidos na Amazónia, na fronteira entre a Colômbia e o Perú.
Feridos, desidratados e subnutridos, foram resgatados pela Marinha colombiana no domingo passado, e permanecem sob vigilância médica na pequena cidade de Puerto Asís, na Colômbia.
Para esta família colombiana não houve Natal nem Passagem de Ano. Os dias eram todos iguais, tentando caminhar nas margens do rio Putumayo, na esperança de chegar a algum local “civilizado” ou que algum barco passasse no rio. Durante 34 dias, não viram ninguém.
Foi a 20 de dezembro que ficaram perdidos, de acordo com um comunicado do Exército colombiano, que ajudou no resgate. A mulher e os três filhos estavam de férias, a visitar pela primeira vez o marido e pai no seu novo local de trabalho, numa propriedade agrícola remota.
Foram passar um fim de semana à Amazónia mas o cenário idílico transformou-se radicalmente quando o homem decidiu ir à vila mais próxima comprar mantimentos, enquanto a mulher e os filhos o ficavam a aguardar. Contava voltar a juntar-se à família rapidamente mas foram todos surpreendidos por uma tempestade. Com a noite a cair, a família começou a pensar que ele poderia ter caído ou necessitar de ajuda, e decidiram procurá-lo. Depressa ficaram desorientados na selva.
O homem também procurou a mulher e os filhos sem sucesso e reportou o desaparecimento às autoridades colombianas. Mas a família seguia o curso do rio Putumayo e, sem o saberem, já estava no Peru.
María Oliva Pérez contou ao jornal El Tiempo que, sem mantimentos, nos primeiros cinco dias não comeram nada, só beberam água. Água do rio, a única que tinham disponível. “Eu tentei sempre manter a calma e dizia aos meus filhos para ficarem tranquilos, que Deus cuidaria de nós”, contou. Mas depois foram atacados por insectos, a fome apertou e a noção do tempo começou a ficar confusa, com os dias a repetirem-se uns atrás dos outros, no mesmo cenário, sem ver vivalma.
Umas duas semanas depois de se terem perdido, já com as crianças muitos fracas, mal se aguentando de pé, a mãe decidiu “montar campo” na margem do rio. “Pensei que íamos morrer ali.”
Os dias continuaram a passar, e os quatro foram sobrevivendo a comer bagas, frutos vermelhos, sementes e raízes.
No dia 24 de janeiro, ouviram um barulho estranho de um motor e viram ao longe um pequeno barco. Era um velho pescador. “Foi um milagre, uma graça de Deus”, diz a mulher, que não esperava sobreviver até ao dia seguinte. “Foi a primeira vez que aquele homem levou para ali o barco”, reforçou ao El Tiempo, agradecendo a “graça divina”.
O pescador deu-lhes de imediato o pouco pão que trazia com ele. Mas assim que comeram, as crianças começaram a vomitar. O seu organismo já não estava habituado a alimentos com tantos hidratos e calorias.
O pescador levou os quatro para a aldeia de La Esperenza, no Peru, onde um grupo de índios Secoya os acolheu. “Há uma família aqui em La Esperanza que diz estar perdida há cerca de um mês”, podia ouvir-se numa mensagem de voz que começou a circular por WhatsApp. Tinha sido gravada por um dos índios, e depressa o alerta chegou às autoridades peruanas.
Dois dias depois, militares peruanos e colombianos juntaram-se numa missão de resgate, providenciando apoio médico imediato aos quatro, que se encontravam extremamente debilitados. A bordo do barco que os foi recolher seguia também o pai e marido, desesperado. No momento do abraço à mulher e aos filhos, nem mesmo os homens duros de farda contiveram as lágrimas.