Às 11h da manhã já a azáfama é grande para Mónica Lisboa e para a equipa de mais sete pessoas que, desde 1 de dezembro, respondem às cerca de 170 mil cartas que chegam aos CTT, endereçadas ao Pai Natal. Sentada no seu cantinho, junto aos presentes e à árvore de Natal, rodeada de caixotes repletos de cartas, Mónica começa a abrir os sobrescritos cuidadosamente. Este ano já respondeu a 20 mil cartas, mas ainda tem muito trabalho pela frente. Atrás de si estão expostos vários postais que foram chegando, ao longo dos anos, para o Pai Natal.
Desde 1985 que os CTT tomaram a iniciativa de mobilizar uma equipa propositadamente para responder aos pedidos dos mais pequenos e manter viva a magia da quadra e das cartas. “Para a maioria destas crianças, no mundo digital onde vivemos, as cartas ao Pai Natal são o primeiro contacto com a carta enquanto forma de comunicação”, explica Miguel Salema Garção, Diretor de Comunicação e Sustentabilidade dos CTT. As cartas não têm de ter selo, apenas remetente, para que os CTT possam enviar a resposta. Polo Norte, Lapónia, Rua das Renas, das Estrelas ou da Lua são algumas das moradas mais populares, mas também há quem use o código postal 999-999 Beijinhos de todos nós. As cartas chegam de Portugal, França, Suíça e Timor e, este ano, até chegou uma da Eslovénia. Além de uma resposta, Mónica explica que enviam “uma pequena lembrança que tem de ser mantida em segredo para não estragar a surpresa”.
Quanto a presentes, “este ano querem brinquedos do Frozen, telemóveis e tablets, mesmo os mais pequeninos com seis ou sete anos”. Desde que Mónica começou a responder aos pedidos das crianças, há 14 anos, que lhe passaram pelas mãos milhares de cartas. Algumas guarda na memória como a primeira carta que leu, na qual uma criança pedia um canário ou a do menino que pedia uma viagem para a avó no trenó do Pai Natal. “É comum as crianças pedirem presentes ou miminhos para amigos e familiares”.
A família representa nesta quadra um papel importante. “A carta ao Pai Natal pode ser um momento fulcral de partilha entre pais e filhos”, afirma Sara Figueiredo, psicóloga especializada em intervenção precoce do PIN (Progresso Infantil). “Para os mais novos, a presença dos pais é importante para lhes explicar que não podem ter tudo, enquanto que junto dos mais velhos podem promover um exercício de escolha e uma reflexão sobre aquilo que realmente lhes faz falta”. Segundo Sara, em ambos os casos, a partilha familiar reveste-se de especial importância, por ser um momento em que os pais estão envolvidos naquilo que as crianças querem, nos seus sonhos e desejos.
Para garantir que todas as crianças possam sonhar com a magia do Pai Natal, os CTT começaram, em 2009, o projeto Pai Natal Solidário. Todos os anos, cerca de 1500 crianças de 41 Instituições de Solidariedade Social vêm as suas cartas ao Pai Natal publicadas no site www.painatalsolidario.pt e em 13 lojas CTT, para que possam ser apadrinhadas. Entrando no site, basta reservar a carta que se quer apadrinhar (inserindo o e-mail) e de seguida dirigir-se a qualquer loja CTT com o número da carta escolhida e o presente, que deve ser novo e não estar embrulhado. “Os CTT encaminham a oferta de forma gratuita, salvaguardando o anonimato do padrinho e da criança”, assegura Miguel Salema Garção. Uma ideia original para envolver toda a família e mostrar aos mais novos que na carta ao Pai Natal há sempre espaço para pensar em quem mais precisa.