O telemóvel passou a ser, para muitos, quase uma extensão da mão. Acorda-nos, conta os nossos passos ao longo do dia, ajuda-nos a escapar ao trânsito, regista os momentos importantes em fotografia e vídeo, põe-nos em contacto com o mundo. Ficar sem telefone é quase como ficar sem uma parte de nós que se tornou essencial.
Essa é a lógica aproveitada também pelas empresas que desenvolveram toda uma gama de wearables, a chamada tecnologia que se usa, como os relógios inteligentes ou óculos de realidade virtual, e serviu igualmente para entreabrir a porta aos criadores de chips para uso humano.
A implantação de tecnologia no corpo humano já se faz há muito por motivos de saúde – é o caso dos pacemakers ou de dispositivos de audição, por exemplo -, e estas pessoas não se consideram seres “estranhos” por isso. Mas há algo diferente no caso dos chips implantados para outro tipo de utilizações, como abrir uma porta ou pagar as compras do supermercado.
A Suécia é o país onde este tipo de chips mais são utilizados, havendo cerca de 5000 cidadãos com um implante entre o polegar e o indicador, em nome de uma vida mais simplificada. Contudo, devido aos receios de aproveitamento por terceiros, a lei permite apenas que possam abrir algumas portas (casa, carro, trabalho) e fazer pequenos pagamentos, como um café, por exemplo.
A empresa sueca Biohax International desenvolveu estes chips simplificados e tornaram-se famosas as “festas de implantação” promovidas nos últimos três anos. Integrar um chip na mão é mais fácil do que colocar um piercing, garantem, e o facto deste dispositivo, colocado numa cápsula alongada com cerca de 1 cm, emitir uma luz azulada através da pele quando é acionado, só aumentou o apelo de quem avançou para a implantação. Há qualquer coisa de cyborg naquele azulado que passa a fazer parte das mãos.
Esta tecnologia não difere muito da que permite o acesso a instalações através da impressão digital ou da leitura óptica, nem da que existe nos cartões de crédito que usamos, na via verde ou nos sistemas integrados nos telemóveis para monitorizarem a nossa saúde, por exemplo. A grande diferença reside no facto de ser implantada no corpo humano, levando ainda mais além a possibilidade de terceiros poderem aceder aos nossos dados pessoais, sabendo a todo o momento onde nos encontramos e até qual o ritmo do nosso coração no último minuto.
Esta empresa sueca está apostada no desenvolvimento de interfaces de pagamento e também de monitorização de saúde, procurando que a tecnologia se torne tão prática e indispensável que o seu valor venha a suplantar todos os receios. Um chip poderá, por exemplo, monitorizar a temperatura corporal, o índice glicémico e o ritmo cardíaco, emitindo avisos quando os parâmetros “normais” forem ultrapassados.
Um dos criadores da Biohax, Hannes Sjoblad, acredita que a utilização deste tipo de chips poderá tornar-se banal nos próximos cinco anos, desde que tal seja permitido legalmente. No futuro, cada vez menos longínquo, prevê a inserção de chips no cérebro humano, de forma a potenciar muitas das nossas (limitadas) capacidades. “O corpo humano é uma excelente base, mas há muitas coisas a melhorar”, ironiza.
É na Suécia, na Alemanha e no Japão que o transumanismo tem conquistado mais adeptos, acreditando-se que, depois da evolução biológica, a condição humana será melhorada no futuro através do desenvolvimento e integração de tecnologias que possam aumentar as capacidades físicas e intelectuais humanas. A filosofia transumanista acredita ser possível a erradicação de qualquer forma de sofrimento causado por doenças e pelo envelhecimento – e, em última análise, vencer até a morte.