“Um dia havemos de conseguir livrar-nos da imposição de andar de saltos no trabalho”, escreveu a artista, escritora e feminista Yumi Ishikawa no Twitter, ao lançar a petição, depois de os seus tweets sobre o assunto terem alcançado mais de 67 mil gostos e terem sido partilhados cerca de 30 mil vezes.
Atualmente, não há leis no Japão que restrinjam as empresas de regulamentar o trabalho dos funcionários – e uma autoridade do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem Estar do Japão já assegurou que não tem planos para mudar as regras e ditar se os empregadores podem exigir que os funcionários usem determinadas roupas ou sapatos, depois de observar que os homens também estavam sujeitos a regras, como é o caso do uso da gravata. “Se o senso comum assim acabar por o ditar é claro que estas regras podem ser alteradas. Mas para já, não”, disse o mesmo funcionário, citado pela CNN.
Nos seus tweets, Ishikawa lançoua hashtag #KuToo, que é um trocadilho feito com duas palavras japonesas. Primeiro, “kutsu”, que significa sapatos, e “kutsuu”, que significa dor, e a mistura das duas resulta numa alusão ao #MeToo, movimento internacional contra o assédio sexual. Daí que #KuToo esteja a ser usado desde então por mulheres para falarem sobre estas suas experiências.
O ministro japonês da Saúde e do Trabalho, Takumi Nemoto, já comentou a petição, defendendo que a imposição de saltos altos é “necessária e apropriada”. “É socialmente aceitável como algo que cai no domínio do necessário e apropriado”, afirmou Nemoto, na quarta-feira.
O movimento #KuToo segue uma campanha semelhante no Reino Unido em 2016, onde mais de 100 mil pessoas assinaram uma petição semelhante, depois de uma rececionista londrina ter sido mandada para casa, sem ordenado, depois de se recusar a usar saltos altos.
Em 2017, o protesto chegou ao outro lado do mundo, quando a província canadiana de British Columbia aboliu este tipo de códigos de vestuário, assumindo que os saltos altos podem provocar graves lesões físicas por escorregar ou cair, assim como possíveis danos aos pés, pernas e costas.
O #MeToo trouxe os problemas de desigualdade de género do Japão para o centro das atenções. O país está classificado em 110º nos 149 lugares do índice do Fórum Económico Mundial que mede o grau de igualdade de género – e ocupa o último lugar do G7 no mesmo parâmetro, apesar da promessa do primeiro-ministro Shinzo Abe de dar mais poder às mulheres no mercado de trabalho.