Há muito que aquele percurso se tornou um cemitério rodoviário. Foi por isso que, no início do mês passado, aquele trajeto de curvas e contracurvas que é a Estrada Nacional 106 amanheceu com dezenas de cruzes brancas na berma. Chamaram-lhe ‘a via sacra do IC35’ – e as razões para toda esta agitação são públicas. Estão à vista no enorme cartaz colado no início da estrada, onde a velha ponte de Entre-os-Rios colapsou. Sob um enorme fundo preto, sobressai uma gigante cruz branca e a seguinte contabilidade: “só nos últimos 12 anos esta estrada registou mais de 500 acidentes e fez mais de 700 vítimas.”
Prometidos há cerca de duas décadas, desde então quase se desespera por pouco mais de 13 quilómetros de alcatrão. Os outros números oficiais ajudam a explicar: ali passam perto de 13 mil veículos todos os dias, a maioria são pesados de mercadoria. Como confirmam os bombeiros de Entre-os-Rios, muitas vezes o trânsito atrasa o socorro.
A reivindicação ganhou força depois da queda da ponte, mas a estrada nunca saiu do papel. Em 2015 chegou a ser lançado o concurso do primeiro troço, que iria ligar Penafiel a Rans, mas a obra foi depois suspensa. Entretanto, mudou o governo, que voltava a adiar o resto da intervenção. Agora, a atual governação inscreveu o projeto no Plano Nacional de Investimento 2020/2030.
“Isto é uma chamada de atenção pacífica. Só queremos que os políticos olhem para este canto do país”, apregoava Joaquim Silva, antigo presidente da junta de freguesia de Rans e líder dessa “via sacra do IC 35”. Agora diz-se mais calmo porque lhe prometeram que as tão desejadas obras vão mesmo avançar. Será?