A cirurgia está prestes a sofrer uma “transformação massiva” e a “culpa”, claro, é das novas tecnologias. Cesarianas e remoções de cancros de pele feitas por robôs, diagnósticos cada vez mais precoces e, a partir daí, cirurgias de menor dimensão e menos traumáticas e tratamentos mais personalizados são algumas das principais previsões de uma comissão independente, criada o ano passado, sobre o futuro a curto prazo da Medicina.
Constituído por alguns dos mais renomados médicos, especialistas em dados, engenheiros, gerentes e representantes dos doentes do Reino Unido, o grupo de trabalho tinha como missão avaliar a evolução, sobretudo da cirurgia, ao longo dos próximos 20 anos.
As inovações tecnológicas deverão afetar todos os tipos de cirurgia, desde a forma como é executada até à maneira como os próprios médicos são treinados. O papel dos robôs neste futuro? Provavelmente tornarem-se cirurgiões tão capazes que os outros, os de carne e osso, poderão ficar só a observar, enquanto até os assistentes poderão ser treinados para fazer cesarianas com recurso às máquinas, neste caso já dentro de cinco anos.
Cirurgias vaginais e aos intestinos, coração e pulmões deverão ser as primeiras e a maioria das levadas a cabo pelos robôs.
“Isto vai ser sempre sob a supervisão cuidadosa e o olhar atento de um cirurgião”, sublinha o neurocirurgião Richard Kerr, da Universidade de Oxford, presidente da comissão, que classifica estas mudanças como “um momento decisivo” para a cirurgia.
Entre as previsões, os especialistas destacam o que acreditam poder ser o fim das grandes operações para remover tumores, uma vez que testes de ADN vão permitir detetar o cancro mais cedo. A comissão prevê mesmo que centenas de milhares de pacientes nem precisarão de ser operados, graças aos avanços ao nível da genética, das vacinas e dos tratamentos. O mesmo tipo de exames poderá ajudar doentes com formas graves de artrite, que, assim, poderão ver reduzida a necessidade de colocação de próteses da anca e joelhos.
O uso de robôs em cirurgias viu-se no centro de acesa polémica em 2015, quando um homem de 69 anos morrer na sequência de uma operação para reparar uma válvula cardíaca, com a intervenção de um robô. A investigação ao caso concluiu que o cirurgião tinha recusado aprender a funcionar com a máquina e que os médicos que estavam presentes no bloco operatório, na altura, tinham tido dificuldades em comunicar devido ao barulho do robô. Por outro lado, o inquérito concluiu também que Stephen Pettitt teria sobrevivido se a cirurgia tivesse sido realizada por um médico.