A “proibição falhada” do consumo de canábis no Canadá, como retratou o gabinete do primeiro-ministro, deu lugar, esta quarta-feira, à venda legal da planta para fins recreativos, cumprindo-se assim a promessa eleitoral de Justin Trudeau. As filas não se fizeram esperar, e alguns entusiastas da ideia não se importaram de chegar várias horas antes da abertura, agora que o próprio Governo tem lojas com marijuana para disponibilizar aos cidadãos, a preços abaixo dos praticados no mercado negro.
Justin Trudeau acredita que, com a legalização plena, quase duas décadas após a aprovação para uso medicinal, o negócio dos traficantes de marijuana vai ressentir-se, o que tornará mais difícil, no seu entender, o acesso dos jovens a esta droga leve, uma vez que só os maiores de 18 anos podem adquirí-la no novo mercado legal. Por outro lado, os consumidores vão passar a saber exatamente aquilo que consomem, já para não falar nas receitas fiscais que o Estado vai arrecadar.
Para assinalar a legalização, muitos canadianos saíram à rua e alguns decidiram festejar em grande, enrolando e fumando charros gigantes, à vista de toda a gente e com muitas selfies à mistura, para a posteridade. Nas novas lojas, os consumidores também sorriram para a fotografia, sobretudo à saída, já com as compras na mão, exibidas como troféus.
A nova lei nacional viabiliza a venda e o autocultivo (máximo de quatro plantas por pessoa), mas cada província terá regulamentação própria. Na de Ontário, a mais populosa, a comercialização ficará entregue a empresas privadas que só vão começar a operar na primavera de 2019 – por agora só é possível encomendar canábis via email. Já na de Quebeque, a segunda mais populosa, será o estado a gerir cerca de uma dúzia as lojas. Na cidade de Montreal já abriram três, e a procura fez-se notar logo no primeiro dia.
Depois do Uruguai, em 2013, o Canadá é o segundo país do mundo a legalizar o consumo de canábis para fins recreativos (vários estados dos EUA também já o permitem). As estimativas indicam que cinco milhões de canadianos (15% da população) são consumidores. O primeiro-ministro Justin Trudeau admitiu ter experimentado “cinco ou seis vezes” há muitos anos, mas garante que não tenciona repetir o gesto, até porque diz não o ter apreciado especialmente.