É das maiores conferências do mundo e poucas cidades estão preparadas para a acolher. Desde há alguns anos que os especialistas em cancro rumam a Chicago, vindos dos quatro cantos do mundo, que recebe no primeiro fim-de-semana de junho a reunião promovida pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). Este ano, são 40 mil, no gigantesco espaço de congressos da cidade do ex-Presidente Obama.
O que é apresentado no encontro anual da ASCO normalmente tem reflexos nas normas orientadoras de tratamento da doença. Este ano, um das grandes novidades foi o estudo em torno do larotrectinib, da biotecnológica Loxo. Os resultados apresentados pelo responsável de desenvolvimento de novos medicamentos, do respeitado Memorial Sloan-Kettering, em Nova Iorque, David Hyman, vêm mostrar, mais uma vez, que a medicina de precisão é sem dúvida o futuro no tratamento do cancro.
Num estudo feito com 55 doentes, 12 crianças e 43 adultos, com 17 diferentes tipos de cancro em estado avançado, 76% dos pacientes respondeu à molécula e destes 79% manteve a resposta positiva durante pelo menos um ano. A revista Forbes conta, por exemplo, a história de um homem de 28 anos que já estava em cadeira de rodas por causa de um tumor de origem desconhecida e que lhe comprimia a coluna, que começou a sentir resultados positivos apenas um dia após ter tomado a primeira dose. Ao fim de 72 horas passou a dispensar a bengala.
A molécula é um tipo de medicamento designado por inibidor de TRK, tendo como alvo uma mutação que ocorre em alguns tipos, raros, de cancro. Apesar de rara, a mutação pode acontecer em diferentes tipos de cancro. No ensaio, por exemplo, participaram doentes com cancro do pulmão, melanoma, sarcoma ou das glândulas salivares. Adultos e crianças. Em comum, a tal mutação. A FDA (organismo americano responsável pelos alimentos e pelos medicamentos) já atribuiu a classificação de medicamento órfão, para o tratamento de tumores sólidos com a mutação TRK.
“Este estudo mostra que podemos tratar o doente com base na mutação que originou o cancro em vez de termos por base o local onde surgiu o tumor”, sublinhou David Hyman. Uma das grandes vantagens da medicina de precisão, além dos bons resultados terapéuticos, é a redução dos efeitos secundários, uma vez que se ataca a origem do problema.
Um novo medicamento, o olaparib, para o cancro da mama, avançado, com mutação no gene BRCA (conhecido como o gene Angelina Jolie) deu mais três meses de vida às mulheres com a doença incurável.
Outra boa notícia está relacionada com a utilização do oxaliplatin, usado no tratamento de cancro cólo-retal. Num estudo apresentado em Chicago, mostrou-se que três meses de tratamento são tão eficazes como seis meses, com um óbvio impacto positivo na redução dos efeitos secundários.