
Enfermeira Ilda Tereso do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde, Barbara Harper, do movimento WaterBirth International e Mariana Simões, das Mães d’Água
Às quatro e meia da manhã rebentaram as águas, mas Bárbara Rocha ainda teve tempo de ir tomar banho, calmamente. Duas horas depois deu entrada no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, e consigo na sala com piscina estava uma enfermeira-parteira e o marido. Faltava apenas a assinatura da médica de serviço a autorizar o parto na água. Na altura, a produtora de espetáculos, 39 anos, explicou que sofre de fibromialgia e a água é das coisas que mais relaxa e alivia as dores. “Sinto que isto é o melhor para mim, mas à mínima coisa que me digam que tenho de sair da água, saio”, acrescentou. Quatro anos depois do nascimento da primeira filha, não tem dúvidas: “A segurança de estar num hospital, mas com o conforto de estar dentro de água é o melhor de dois mundos.”
Bárbara Rocha é uma das Mães d’Água, movimento cívico que, desde o verão de 2014, luta para que todo o Serviço Nacional de Saúde tenha o parto na água como uma opção. Nessa altura, o serviço que existia em Setúbal encerrou porque nem todos os médicos concordavam com o procedimento e ao recusarem-se a autorizar, fazer ali o parto na água seria “uma roleta-russa”, na opinião de Bárbara.
O núcleo duro de trabalho das Mães d’Água arregaçou as mangas. São pessoas de todo o País, incluindo mulheres que não são mães, mas que querem ter esta opção, mulheres que já fizeram o parto na água em casa, devidamente acompanhadas, profissionais de saúde que assistem os partos em casa e homens. Bárbara Rocha ajudou a recolher muitas das 4 500 assinaturas de uma petição que foi entregue na Assembleia da República e analisada pela comissão de ética, em 2015. “A maioria dos partidos disse que era um assunto que deveria voltar à discussão e que nos apoiava. No entanto, a petição foi arquivada. Foi um balde de água fria”, lembra. Entretanto, já reuniram com o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, e concluíram que “este Governo está mais aberto, principalmente, na humanização do parto”. E se, há dois anos, pediam para voltar o parto na água a Setúbal, agora pedem para que todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde tenham essa opção. O que conseguiram com a recente campanha de crowdfunding foi uma piscina que “fornece a hidroterapia para as grávidas puderem utilizar a água durante trabalho de parto, mas a expulsão será fora de água.”

Os partos na água são feitos em piscinas mais ovais do que redondas, algumas com um banco no interior para a mulher ou o pai do bebé sentar-se, com a água morna
Começaram por pedir 1 800 euros mas na campanha de crowdfunding angariaram 2 051 euros e entregaram uma piscina no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim – Vila do Conde. A iniciativa contou com a presença de Barbara Harper, fundadora do WaterBirth International, ativista do movimento dedicado ao parto na água que começou em 1988, na Califórnia. Já, no ano passado, Barbara Harper esteve no Hospital Garcia de Orta, em Almada, a dar uma formação a cerca de 80 profissionais de saúde, na sua maioria enfermeiros.
“Mais importante do que a piscina é a formação dos profissionais. Com esta campanha quisemos mostrar que não são precisos milhares de euros em equipamento”, explica Bárbara. E a quem lhe pergunta: “Então e a próxima?”, Bárbara responde: “Não era essa a intenção. Não nos fica bem, nem a nós nem ao Estado, acharmos que vamos arranjar piscinas para todos os hospitais públicos do País. Isto foi um alerta, uma chamada de atenção para o assunto. É preciso fazer uma mudança no Serviço Nacional de Saúde, pois as mulheres e as famílias estão informadas e querem ter o parto na água como opção.”