O futuro da deteção do VIH, o vírus da sida, cabe num chip de meio milímetro. O feito é do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSISC), o maior organismo público de investigação em Espanha e o terceiro em toda a Europa. Segundo conta o diário El País, uma equipa do CSIC desenvolveu um biossensor capaz de detetar o vírus apenas uma semana depois da infeção. A experiência, feita com soro humano, acusa a presença do antigénio p24, uma proteína presente no VIH 1, em concentrações cem mil vezes inferiores do que os testes atuais – sendo que estes também só confirmam a presença do vírus entre três a quatro semanas depois do contágio. Outra vantagem deste método inovador é que o tempo total de análise é de perto de cinco horas, com resultados no próprio dia. Os dados da investigação foram publicados na revista Plos One.
A deteção precoce é a chave para prevenir a transmissão do vírus, acredita Prsicila Kosaka, uma das criadoras do chip agora anunciado. “O potencial de infecciosidade do VIH na primeira etapa de contágio é muito maior do que em fases posteriores. Quanto mais cedo se iniciar a terapia antirretroviral, maior a melhoria no controlo imunológico”, defende aquela investigadora.
Este biossensor combina estruturas micromecânicas de silício com nanopartículas de ouro, que funcionam com anticorpos específicos para o p24. O soro é introduzido nesse sensor durante uma hora e, no fim, os antigénios do VIH1 – se lá estiverem – ficam presos entre o silício e as tais nanopartículas. Javier Tamayo, também do mesmo CSIC, explica que a combinação das duas estruturas produz sinais óticos e mecânicos de extraordinária sensibilidade para encontrar o vírus. “O sangue tem mais de mil proteínas diferentes e encontrar uma quantidade tão pequena de antigénios é como encontrar uma agulha num palheiro”, comenta o investigador.
Os cientistas explicaram ainda que o silício permite desenvolver tecnologia barata, o que possibilita a produção em grande escala. “É uma tecnologia com grande potencial nos países em vias de desenvolvimento”, assinala ainda Priscila Kosaka.
De momento, o sensor está a ser aplicado na deteção precoce de alguns tipos de cancro (como o da próstata). Kosaka também já tinha criado um chip semelhante em 2015 para outras doenças, como a hepatite. “O uso dos biossensores não tem limites”, sustenta o colega Tamayo, que acredita igualmente na possibilidade de a tecnologia funcionar com recurso aos telemóveis, simplificando ainda mais o diagnóstico.
A equipa de investigadores iniciou entretanto o processo burocrático, prestando provas tanto na agência espanhola do medicamento e produtos sanitáfios como na americana FDA, para que o chip chegue a hospitais e laboratórios dos mais diversos países nos próximos três a quatro anos.