Em Portugal a convite do Presidente da República, Ban Ki-Moon iniciou o seu segundo dia de visita ao nosso país encontrando-se com o primeiro-ministro, António Costa, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Após as reuniões, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o secretário-geral das Nações Unidas, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Seguiu-se um almoço em Belém, no qual esteve também presente a Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA, Catarina Furtado.
Desempenhando aquelas funções há 16 anos, o trabalho de Catarina Furtado foi recentemente elogiado por Ban Ki Moon (ver vídeo).
A propósito das declarações do secretário-geral da ONU, a VISÃO falou com Catarina Furtado:
Há 16 anos que é Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População. Que balanço faz desta experiência?
De facto, há 16 anos que tenho esta missão voluntário e tem sido muito gratificante. Tem-me tem dado a conhecer as realidades do mundo em desenvolvimento. Nas visitas que fiz, pude testemunhar os investimentos feitos em saúde materna, na saúde sexual e reprodutiva, na questão de oportunidades e igualdades de género. Há de facto um combate contra a pobreza e há uma melhoria das condições de vida das famílias. Quando se apoia uma mulher, está-se a apoiar uma família – essa é uma equação muito lógica que retiro deste trabalho. Por isso mesmo decidi o ano passado escrever um livro em que relato toda a experiência. Dá-me muito prazer poder semear nas nossas escolas, nos nossos jovens, a questões de igualdade e das oportunidades, as questões da cidadania e, sobretudo, dos direitos humanos para todas as pessoas.
Qual foi a experiência que mais a marcou?
Isso é muito difícil de responder. Os enquadramentos dos países são sempre diferentes. É óbvio que ir à Índia e ver o gigantesco contraste entre o desenvolvimento económico e a pobreza extrema de grande parte da população e as condições em que as mulheres vivem neste momento é revoltante. Mas depois estar na Guiné-Bissau - país pelo qual tenho um carinho muito especial e nós todos temos responsabilidades históricas – e perceber que, nos dias de hoje, ainda há mulheres que morrem ao dar à luz… Como é possível? Não consigo dizer qual a experiência que mais me marcou. Fui várias vezes a Timor-Leste, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde. Fui à Indonésia, ao Haiti, à Índia, ao Sudão do Sul. Também ajudo aqui em Portugal com a associação Coração Com Coroa, que fundei há quatro anos. As pessoas são sempre diferentes, mas os direitos são sempre os mesmos e é é sempre na promoção dos direitos para todas as pessoas que me concentro.
Como se sentiu quando viu o vídeo de Ban Ki-Moon?
É muito gratificante, não estou à espera de aplausos, de todo, mas estou à espera que a visibilidade do trabalho possa inspirar muitas outras pessoas a entrarem neste comboio comigo. A primeira coisa que o senhor Ban Ki-Moon disse no almoço, além de agradecer ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a condecoração, foi: «eu estou aqui em nome de todas as pessoas que todos os dias, em todas as partes do mundo, trabalham para que milhares e milhares de pessoas que não têm as mesmas condições possam vir a ter.» E é um bocadinho isso: de facto eu não esqueço que é nas pessoas cujos direitos não são reconhecidos que tenho de pensar.