Esmagado entre a agenda do Presidente da República, o candidato Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a hora de almoço (antes de se reunir com a nova direção da Juventude Socialista) e deslocou-se à Azambuja para a ação de campanha do dia. Foi visitar o Centro Paroquial desta vila ribatejana, onde falou com as crianças da creche, os trabalhadores e os utentes do lar através de uma videochamada a partir do auditório da instituição.
O sítio não lhe é estranho. Já aqui esteve por mais de uma vez, a última em 2019 por altura de uma conferência, mas optou por voltar para saber como se está a adaptar às circunstância pandémicas o Centro Paroquial, onde há 18 idosos infetados com Covid-19, quatro crianças e nove funcionários.
Avisados duas horas antes sobre a ação de campanha, como aliás tem sido habitual, os jornalistas não o puderam acompanhar. Marcelo Rebelo de Sousa esteve um hora dentro das instalações e à saída destacou o papel das IPSS`s no combate à crise sanitária, mas foi na pele de Presidente que fez praticamente todas as declarações à comunicação social. Marcelo referiu, mais uma vez, que assume a responsabilidade pelo descontrolo da pandemia, lembrando aos portugueses que estamos a passar por uma “fase mais difícil”, com uma “pressão enorme” sob o sistema de saúde e que cabe a cada um a responsabilidade de cumprir as medidas sanitárias decretadas.
“Não há poder politico que se possa substituir às pessoas por muito persuasivo que seja. Em democracia quem mais ordena são as pessoas”, disse o Presidente. “As pessoas têm de perceber o seguinte: a eficácia das medidas depende muito dos próprios. As pessoas têm de aderir à importância de cumprir as medidas. Se não aderirem o custo é maior no dia à dia e no tempo que as medidas duram”, acrescentou pouco antes de se ver confrontado com as suas próprias palavras.
Se uns ficaram manifestamente contentes por encontrar o Presidente da República na sua terra, parando para assistir, para o cumprimentar e até para pedir uma selfie “com respeito pela distancia”, lembrava Marcelo. Outros não viram com bons olhos que o candidato andasse na rua, enquanto pede a todos os portugueses para ficarem em casa. “Não há covid? Podem estar em cima todos uns dos outros?”, atirava uma mulher a passar a uns metros de distância do Presidente, rodeado por jornalistas.
Campanha para agradar a gregos e a troianos
Marcelo não entrou em diálogo direto, mas interrompeu-se para ouvir e não deixou de comentar que percebia o discurso. Desculpou-se, depois, aos jornalistas: “eu tenho tentado reduzir as ações de campanha. Confesso que numa primeira fase estava quase tentado a reduzi-las a praticamente nada. Mas depois – como vi que isso era interpretado como arrogância, um sinal de sobranceia, distanciamento, que era difícil explicar que se tratava de uma questão de precaução de emergência sanitária – passei a ter particamente todos os dias uma ação. Uma ação”.
O que é certo é que a sua figura despertou curiosidade e foi quase impossível não acabar a recriar, em ponto pequeno, uma campanha espontânea com o Presidente a parar à janela de Aurora e Sebastião Luzia – com 77 e 87 anos respetivamente – que ansiosamente seguiam os passos de Marcelo da janela da sua sala no rés do chão em frente ao Centro Paroquial.
“Como é que vai essa saúde?”, foi perguntar o Presidente ao casal, que viu nesta interação uma oportunidade para contar o seu historial. Sebastião, padeiro reformado, teve até oportunidade de mostrar o seu talento de acordeonista, incentivado pela mulher que o obrigou a ir buscar o instrumento para fazer uma serenata de duas músicas a Marcelo.
Ficou provado um dos talentos, o outro ficou adiado para depois da pandemia, porque Marcelo não seguiu para Belém sem prometer ao casal que voltava para provar o pão de Sebastião. “Por mim não vai para lá [Belém] outro”, despediu-se Sebastião Luzia, seguido pela mulher: “Ai, por mim também não que eu sempre adorei este professor”.